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Numa 'nice'

Diretor Heitor Dhalia estreia em Hollywood com o filme "12 Horas", que chega aos cinemas em fevereiro

Marisa Cauduro/ Folhapress
O pernambucano Heitor Dhalia, que lança carreira em Hollywood
O pernambucano Heitor Dhalia, que lança carreira em Hollywood

FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA

Durante uma semana, o cineasta brasileiro Heitor Dhalia precisou ouvir o baião de Luiz Gonzaga (1912 -1989) enquanto dirigia sua primeira produção no exterior, o filme "12 Horas" (Gone), que estreia nos Estados Unidos e no Brasil no dia 24 de fevereiro.

"Eu escutei Luiz Gonzaga para me equilibrar e voltar às minhas origens, em meio às pressões da filmagem", conta Dhalia, 41, que é pernambucano como o rei do baião.

Apesar das dificuldades, é sem frustração que ele volta Brasil, após passar praticamente todo o ano entre Los Angeles e Portland, nos Estados Unidos, onde o filme foi rodado. "Fui, fiz e realizei. Foi um grande desafio e um sonho", conta Dhalia.

Diretor de filmes com temáticas não tão populares e bastante autorais, como "O Cheiro do Ralo"(2007) e "À Deriva" (2009), ele estreia em Hollywood com uma produção de suspense, na qual teve um controle relativo.

"Aprendi em Los Angeles que se sabe de quem é a autoria de um filme pelo contrato", diz. Em seu caso, "12 Horas" é uma coprodução de Sidney Kimmel, que realizou "Sinedóque, Nova York" (2008), dirigido por Charlie Kaufman, e a produtora em ascensão Summit, que se destacou pelo sucesso da saga "Crepúsculo" e pelo Oscar para "Guerra ao Terror".

Nesse sistema, Dhalia não teve direito ao corte final do trabalho. "12 Horas" passou por pelo menos quatro exibições preliminares com o público, que avaliou a película em grupos de discussão.

"Estive em todas as sessões. Ver como as pessoas reagiram ajudou o filme. Tudo foi tratado com profissionalismo", conta ele, que refilmou cenas após as sessões.

"12 Horas" é um thriller sobre o desaparecimento da irmã de Jill (Amanda Seyfried), que teria sido levada pelo mesmo sequestrador que a tomara no passado, mas do qual havia escapado.

Na busca pela irmã, Jill é auxiliada por sua melhor amiga, interpretada por Jennifer Carpenter, conhecida pelo seriado "Dexter".

O sentimento de missão cumprida em Hollywood se dá para Dhalia por vários motivos, entre eles a superação da barreira da língua: há oito anos, o diretor sequer falava inglês.

"Quando 'Nina' [seu primeiro longa, de 2004] foi exibido no Festival de Toronto, pedi ao André Ristum para me representar", lembra.

"Ele disse que o filme fez sucesso e fomos a Los Angeles encontrar um agente, e ele foi de tradutor. Eu só dizia 'yes', mas não entendia nada. Mesmo assim voltei com um agente contratado", diz o diretor, que logo que retornou ao Brasil começou a ter aulas de dramaturgia e de inglês.

CANGACEIRO

Dhalia diz que foi com "À Deriva", com o qual esteve no Festival de Cannes, que ganhou visibilidade e se "credenciou para pleitear a direção de um filme em inglês".

Desde então, vários roteiros caíram em suas mãos, entre eles o de uma biografia do escritor americano Scott Fitzgerald (1896-1940) -mas o primeiro a encontrar viabilidade foi "12 Horas".

Com um orçamento de US$ 19 milhões (cerca de R$ 35 milhões), valor alto perto das produções brasileiras -"Tropa de Elite 2" custou R$ 14 milhões-, "12 Horas" não deve fazer o circuito de festivais de cinema de arte aos quais Dhalia está acostumado.

Em vez disso, o introduz num círculo de diretores brasileiros com um pé em Hollywood, como Fernando Meirelles e Walter Salles.

Ele era, aliás, o único brasileiro no set de filmagem e dirigiu em inglês o tempo todo. "Sobrevivi, mas foi uma experiência recompensadora, pretendo voltar", resume.

Nos momentos de crise com o diretor de fotografia do filme, o texano Michael Grady, Dhalia costumava alertar: "Você pode ser um caubói, mas eu sou cangaceiro, então é melhor tomar cuidado".

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