Crítica Drama

Saudosista e autorreferencial, filme reflete amadurecimento do diretor

"Cavalo de Guerra" pode ser antiquado. Pode até ser, também, o resultado de um saudosismo de seu diretor de 65 anos a respeito do cinema catártico com o qual se consagrou nos anos 1980.

E, pior, poderia ser inclusive um retrocesso diante da visão de mundo mais direta e comprometida com a qual Spielberg desenvolveu melhor seu cinema na última década -e cujo ponto alto é o adulto "Munique" (2005).

Ainda assim, "Cavalo de Guerra" não deixa de ser uma obra de maturidade, e impensável para aquele diretor que preferiu o espetáculo para falar de um assunto capital, como o holocausto, em "A Lista de Schindler" (1993).

Porque "Cavalo de Guerra" é, antes, autorreferencial. É o trabalho mais cinefílico do diretor e, por isso, o mesmo jogo com o qual ele construiu suas fantasias, trazendo ao enredo alguns dados da realidade -ou seja, criando mundos fechados e ideais a partir de "traições" ao mundo real, à história e a inexorabilidade da vida-, aparece aqui menos invisível, mais codificado ao espectador.

Não parece importante fazer um espetáculo real da Primeira Guerra Mundial, pois ela serve como espaço para o drama dos personagens, sobretudo o cavalo Joey.

Inclusive, humanizado ao nível de oferecer a generosidade a vários, entre alemães e franceses, e amor incondicional ao seu querido amigo Albert (Jeremy Irvine), retira a plausibilidade da trama.

Como se a ideia, aqui, fosse mesmo proclamar um discurso sobre a determinação, pureza e retidão -valores impossíveis nos mundos que Spielberg vinha mostrando ultimamente.

A referência mais clara, a do cinema de John Ford, é a que confirma o olhar de Spielberg. Os westerns de Ford recontaram a história dos EUA a partir do mito para, justamente, negar uma visão legendária sobre essa história.

Spielberg só acredita na lenda. E, nisso, "Cavalo de Guerra" é sincero e digno.