Crítica Jazz

David S. Ware ressurge com dois belos álbuns

Após um complicado 2009, quando teve de se submeter a um transplante de rim, o saxofonista americano David S. Ware, 62, ressurgiu em grande estilo. O músico encerrou 2011 com dois novos belos álbuns e voltou a mostrar sua arte nos palcos.

Não é exagero considerar Ware como o mais importante saxofonista em atividade. Dono de inesgotável pulsação criativa, ele escapa dos estereótipos jazzísticos e não se cansa de investigar rumos musicais frescos, sempre surpreendendo.

Para compor "Planetary Unknown", um de seus recentes trabalhos, o saxofonista armou um quarteto finíssimo, com seu antigo parceiro William Parker (baixo), Muhammad Ali (bateria) e Cooper-Moore (piano).

"Passage Wudang" abre o disco com longos 22 minutos, nos quais Ware sustenta a tensão demonstrando sua incrível habilidade para improvisar livremente.

Quem está acostumado com standards quando o assunto é jazz, talvez sinta certa dificuldade para acompanhá-los. O esforço, no entanto, é recompensador.

CLÁSSICO DUELO

Também está presente o clássico duelo entre sax e bateria, com Ware e Ali fazendo de "Duality is One" o momento mais quente registrado.

O tom muda quando entra em cena "Divination". Tema marcado por um lirismo de sabor oriental, traz Ware executando o inusual sopranino (dos mais agudos exemplares da família dos saxes), em delicado diálogo com o piano.

Junto a esse empolgante quarteto, o músico americano soltou há pouco o álbum "Organica", outra deliciosa incursão solista.

Registro ao vivo, o álbum mostra o instrumentista se revezando entre os saxes tenor e sopranino, sem acompanhamentos, em quatro extensas improvisações.

O mais comum no mundo do jazz são as sessões solísticas de pianistas. Talvez, por isso, "Organica" cause estranhamento para alguns. Mas isso não é motivo para deixar de conhecer a encantatória arte de Ware.