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Bertrand Bonello diz que filme sobre bordel é "casto"

Diretor pesquisou documentos dos séculos 19 e 20 para falar sobre a sífilis e o sonho de deixar a prostituição

Francês defende que cenas que chocam servem para "pessoas sentirem tudo de uma maneira mais carnal"

BRUNO GHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A sexualidade tem forte presença nos filmes do francês Bertrand Bonello, 43.

Após filmar a vida de um cineasta pornô em "O Pornógrafo" (2001) e de travestis brasileiros na França em "Tirésia" (2003), o diretor fala agora de prostituição em "L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância".

O longa acompanha o dia a dia de prostitutas em um bordel no fim do século 19.

"A questão sexual está sempre ali, mas nunca é o cerne de meus filmes. Em 'L'A-pollonide', o que me interessou foi sobretudo o bordel enquanto um lugar -seus códigos, sua funcionalidade, seus rituais", diz Bonello, à Folha, por telefone, de Paris.

"Além disso, optei por mostrar esse meio porque a prostituta é um personagem de ficção muito forte: há em relação a ela uma proximidade -você paga, ela está ali- e um grande mistério. Não é à toa que, nas artes, sempre teve presença marcante."

Para criar um ambiente fiel às chamadas "casas de tolerância" do passado, Bonello se debruçou por meses sobre documentos do final do século 19 e início do século 20.

Procurou retratar as situações cotidianas com um olhar de natureza quase antropológica, sem glamour.

"As personagens são todas inventadas, mas as situações são reais. Tudo o que diz respeito à sífilis e ao sonho geral de deixar o local, por exemplo, foi baseado em histórias verdadeiras", conta.

Bonello também decidiu mostrar que as mulheres podem ser solidárias entre si.

"No começo, pensei em mostrar as prostitutas como rivais, em permanente conflito. Mas, em minhas pesquisas, vi que elas atravessavam situações muito difíceis e, por isso, desenvolviam um forte senso de solidariedade. Um dos objetivos do filme é esse: apresentar essa noção de conjunto, de grupo feminino."

Apesar de falar de profissionais do sexo, Bonello evitou o excesso de nudez. "Cenas de sexo em um filme sobre um bordel seriam monótonas. Optei então por priorizar as relações humanas, o que se passa dentro do quarto, realçando a questão do fetichismo e da teatralização."

Ainda assim, o filme tem algumas cenas chocantes. "Mas o choque não é intencional. Em meus filmes, as cenas que chocam não estão lá para agredir, mas para fazer as pessoas sentirem tudo de uma maneira mais carnal. Na verdade, 'L'Apollonide' é um filme casto."

Bonello tem um histórico de reações extremas a seus trabalhos. Com "L'Apolloni-de" não tem sido diferente.

Na França, as revistas "Les Inrockuptibles" e "Cahiers du Cinéma" o colocaram entre os melhores do ano passado, mas o jornal conservador "Le Figaro" execrou o longa. "Já estou habituado a extremos", diz o diretor. "Prefiro que seja assim a que vejam meus filmes como unanimidades."

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