Crítica MPB

Músico acerta com pop contemporâneo brasileiro em novo CD

"Sem Nostalgia", disco anterior de Lucas Santtana, é um trabalho que pode ser chamado de conceitual -sem que isso queira dizer chato.

Deu muito certo a ideia de um disco de voz e violão, no qual o instrumento, mais do que executado, é explorado em vários sentidos, em percussões, samples e "mashups".

Agora, com "O Deus que Devasta Mas Também Cura", a situação é outra. Temos um disco que pode ser chamado de eclético -sem que isso, mais uma vez, queira dizer chato. Longe disso.

Lucas, músico de muitos instrumentos, com pegada de produtor, é um craque na orquestração de ambientes sonoros, na produção de camadas que se sobrepõem e se entrecruzam como se fossem planos de pintura.

Nesse painel sonoro tingido por pinceladas eletrizantes - e também tranquilizantes-, mesclam-se elementos eletrônicos e acústicos, muitas vezes díspares ou até insólitos.

Tudo a serviço de uma música pop contemporânea brasileira, no caso, com raízes afro-reggae-baianas e antenas "high-tech" ligadas nos sons da grande aldeia.

Assim é em "O Deus..", que vai da canção brazuca ao "global guettotech", do embalo de Belém à solidão sacudida de São Paulo, do brilho dos metais, numa faixa instrumental, ao "tribal eletro" da banda londrina My Tiger My Timing, que aparece numa versão em português de "This Is Not the Fire".

DIVERSIDADE

Com participações preciosas de uma legião de músicos e produtores, as faixas são de certa forma harmonizadas, em sua diversidade, por meio do uso de elementos de origem sinfônica, entre os quais samples de Ravel, Beethoven e Debussy.

Parece esnobismo de massas, mas funcionou.

Conferiu uma certa personalidade ao conjunto e acabou por dar ao disco um toque tropicalista -o que não é nada estranho em se tratando de um filho do produtor Roberto Santtana, primo de Tom Zé, que participou como instrumentista do álbum "Tropicália 2".

O DEUS QUE DEVASTA MAS TAMBÉM CURA

ARTISTA Lucas Santtana

LANÇAMENTO independente

QUANTO R$ 20, em média

AVALIAÇÃO bom