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Teatro

Alvim estreia nova parceria com Ciocler

Criador do Club Noir volta a dirigir o ator em 'A Construção', adaptação de conto homônimo do escritor Franz Kafka

Montagem retrata sujeito zoomórfico que vive amedrontado e no escuro; pré-estreia será hoje na Caixa Cultural

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A parceria do ator Caco Ciocler com o diretor Roberto Alvim fermentou. Em 2011, eles levantaram o monólogo "45 Minutos" e, agora, voltam a imergir em um novo projeto, "A Construção", que tem pré-estreia na Caixa Cultural e segue em temporada no Sesc Pompeia no dia 10/2.

"Imersão" é uma palavra que ambos usam, talvez por analogia com o sujeito que habita o conto homônimo de Franz Kafka (1883-1924) adaptado para a peça.

Uma marmota? Uma toupeira? Um tatu? Ou um autor acuado em seu quarto, cavando corredores subterrâneos imaginários para se aliviar da iminência da morte?

O pouco que se sabe sobre esse sujeito zoomórfico é que, para se proteger de um possível predador, ele amplia um sistema de túneis subterrâneos. Vive no escuro e com medo. Também com alguns poucos momentos de luz, pois há uma toca na superfície que lhe permite sair e entrar.

O projeto parte de uma sugestão de leitura do psicanalista de Ciocler. "Como você reage às excitações que o outro lhe provoca? Se vivesse sozinho no mundo, talvez suas patologias psíquicas não existissem", propõe o ator.

Embora possa ser lido sob a ótica da psicanálise, os significados se estendem para representações de situações político-sociais. Foram muitos os filósofos que se debruçaram sobre o texto, entre eles Sartre (1905-1980) e Heidegger (1889-1976).

Alvim atenta para o título que a obra não tem. "Ela não se chama 'A Casa'", destaca. "Não é algo pronto, onde você vai morar. Ela se chama 'A Construção' e está em permanente ampliação, inclusive de seus significados."

A construção empreendida no subsolo pode, por exemplo, espelhar com certo didatismo a estrutura que se entrelaça a fenômenos culturais contemporâneos, como explica Alvim. "O texto é obsessivamente repetitivo, e essa repetição remonta a toda criação de sistemas ao longo da história", diz.

O socialismo de Stalin (1879-1953), por exemplo, poderia estar ali simbolizado? Para Alvim, sim. A peça pode representar "o sistema que se fecha para a ameaça externa, remoendo a existência de um inimigo para justificar a ampliação de sua estrutura".

Com todos os símbolos que o texto possa desprender, Alvim prefere nomeá-lo "um enigma", o que tem influência direta sobre a montagem proposta.

A primeira imagem da encenação é a de um homem na penumbra, com uma caneta. Ele está sentado junto a uma mesa, e mais adiante há, riscado no chão, o contorno de um corpo, como se um legista já tivesse passado por ali. Um outro homem, em cena, se aproxima, sem falas.

Ciocler trabalha um tipo de interpretação que se aproxima do vértice minimalista do trabalho que Alvim vem desenvolvendo junto a sua companhia, o Club Noir.

A imobilidade gestual proposta pelo diretor em outras montagens parece balançar, principalmente pela respiração do ator. Zoomorfismo, ali, é apenas um detalhe, quase imperceptível.

A CONSTRUÇÃO
QUANDO qui. a dom., às 19h30; até 5/2
ONDE Caixa Cultural São Paulo (pça. da Sé, 111; tel. 0/XX/11/3321-4400)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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