Clube dos 5
Casa Sete, grupo de pintores formado nos anos 1980, está de volta em mostra
Eles tinham 20 e poucos anos e rejeitavam a alegria. Quando se juntaram em 1984 no número 7 de uma rua em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, os garotos do endereço que ficou conhecido como Casa Sete --Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Paulo Monteiro, Nuno Ramos e Rodrigo Andrade-- queriam fazer uma pintura "dark".
"Era um luto adolescente, talvez pela perda da infância", analisa Monteiro. "A gente gostava de rock pesado. O pessoal do Ira! e dos Titãs morava ali perto. Nosso trabalho era uma coisa de moleque."
Mais de três décadas depois, essas telas de traços raivosos inspiradas pelo expressionismo abstrato americano viraram símbolo da volta à pintura que marcou os anos 1980 no país. Juntos numa exposição que começa no dia 13 de junho, no Pivô, centro cultural no edifício Copan, 20 desses trabalhos voltam para contar uma parte dessa história.
Escuras, carregadas de tinta e nervosas como o som das guitarras elétricas, as telas da turma apelidada na época de "roqueiros do pincel" também servem de poderoso contraponto à cena atual da pintura no país, marcada por uma resistência menor da crítica a esse suporte e um retorno desavergonhado a um figurativismo exuberante.
Um dos nomes da novíssima leva de pintores, agora com uma mostra na galeria Baró, Daniel Lannes talvez não encontrasse público hoje sem a rebeldia adolescente da Casa Sete. "Faço um 'mash-up' de tudo, com interpretações delirantes", diz o artista. "Pintura é onde ponho minhas angústias, neuroses, obsessões."
É uma atitude que não foge muito do espírito dos rapazes, hoje artistas consagrados, do antigo ateliê em Pinheiros. "A morte da pintura morreu, pararam de falar nisso", diz Rodrigo Andrade. "Só que, na época, fazer uma tela era um campo de batalha. A gente tinha a consciência de que a arte não avançava mais como na época das vanguardas. Tinha um peso, uma melancolia."