Crítica livro/música
Obra bem feita trilha itinerário do Cure até se tornar megabanda
Recém-lançada no país, 'Nunca É o Bastante' é biografia informativa sobre grupo de rock e seu enigmático líder
Nenhuma banda fez tanto sucesso cantando sobre tanta tristeza. A música pop é, por definição, alegre e gregária. Como explicar, então, que um bando de rapazes melancólicos, falando sobre o horror de morar numa cidadezinha cinza e a sensação de não se encaixar no mundo, possa ter vendido mais de 30 milhões de discos e enchido estádios em todo o mundo?
Acaba de sair no Brasil "Nunca É o Bastante "" A História do The Cure", de Jeff Apter, biografia bem feita e informativa sobre o Cure e o seu líder, o enigmático e cultuado Robert Smith. O Cure surgiu em 1976, em Crawley, a cerca de 50 km de Londres. "Crawley é cinza e nada inspiradora, com uma névoa de violência pairando", diz Smith.
O guitarrista e vocalista cresceu lendo gibis e histórias de terror e ouvindo a psicodelia de Jimi Hendrix e o rock andrógino de David Bowie e T-Rex. Em 1970, seu irmão mais velho, Richard, levou Robert, 11, para ver Hendrix no Festival da Ilha de Wight. Mas Richard arrumou uma garota e foi transar, deixando Robert sozinho na barraca. Hendrix morreria 18 dias depois.
Outras grandes influências de Robert foram a literatura existencialista francesa de Sartre e Camus, o folk lindo e depressivo de Nick Drake e --surpresa-- o blues explosivo do escocês Alex Harvey.
O Cure estreou em disco com um LP minimalista de pós-punk, "Three Imaginary Boys" (1979). Mas foi com a tríade de "Seventeen Seconds" (1980), "Faith" (1981) e "Pornography" (1982) que Smith eternizou a sonoridade do grupo: canções lentas e atmosféricas, com letras que mais pareciam sessões de terapia. "Eu tinha duas opções: ou cometia suicídio ou fazia um disco e botava aquilo para fora", disse Smith sobre "Pornography". Foi uma época pesada, em que a banda abusava de drogas e álcool.
Por volta de 1982, Smith deu uma guinada, lançando músicas mais pop e acessíveis, como "Let's Go to Bed" e "The Lovecats". A MTV, que tinha acabado de estrear nos EUA, cansou de mostrar os clipes que Tim Pope fez para o Cure, e a banda explodiu.
O livro de Apter conta a transformação do Cure, de um pequeno e despretensioso veículo para as divagações existenciais de Robert Smith, até virar uma megabanda de estádio. E o Brasil é citado: com sua típica verve melodramática, Smith lembra um show no Mineirinho, em Belo Horizonte, lotado, em 1987: "Corpos eram carregados às centenas, mas com sobreviventes ainda cantando loucamente enquanto íamos embora".
NUNCA É O BASTANTE - A HISTÓRIA DO THE CURE
AUTOR Jeff Apter
TRADUÇÃO Ligia Fonseca
EDITORA Edições Ideal
QUANTO R$ 44,90 (336 págs.)
AVALIAÇÃO bom