Verve de Angeli completa 40 anos de Folha
Um dos fundadores do moderno humor gráfico paulistano, cartunista publicou sua primeira charge há 4 décadas
Hoje com olhar voltado ao desenho, artista fez críticas sociais e políticas que ainda permanecem atuais
Há exatos 40 anos, em 20 de setembro de 1975, Angeli publicava sua primeira charge na Folha, que retratava divisões internas no MDB, partido que deu origem ao PMDB. Foi convidado pela cartunista Hilde Weber, mulher do jornalista Claudio Abramo, para o cargo de chargista fixo no jornal.
Na década de 1970, o jornal "Pasquim" dava voz a uma oposição bem-humorada contra o governo militar, e foram cartunistas do periódico carioca, como Jaguar, Millôr, Henfil, que influenciaram os primeiros trabalhos de Angeli.
Aos poucos, o paulista Arnaldo Angeli Filho, 59, construiu um humor próprio. Com Luiz Gê, Glauco, Laerte e outros, fundou o moderno humor gráfico paulistano.
A observação da sociedade já estava nos primeiros trabalhos do cartunista. Críticas feitas há quase quatro décadas permanecem atuais. Em alguns casos, são até proféticas.
Em charge de 1981, Angeli retrata o general Golbery do Couto e Silva tranquilizando o então presidente militar João Baptista Figueiredo e sugerindo que um partido de oposição poderia ser aceito pelo regime desde que o civil José Sarney estivesse no comando.
De fato, Sarney esteve em torno do poder nas quatro décadas seguintes. Angeli confessa: "Escolhi uns caras para malhar. Sarney e Maluf são alguns deles. Torcia para que eles aparecessem no noticiário e eu pudesse desenhá-los".
Em 1983, Angeli deixou de fazer charges para se dedicar exclusivamente às tiras e à revista "Chiclete com Banana", sucesso editorial cuja tiragem chegou a 110 mil exemplares.
Nessa época, a observação dos tipos urbanos pós-abertura política se intensificou. Angeli criou a libertária Rê Bordosa, o punk Bob Cuspe e os velhos hippies Wood e Stock. Depois, decidiu abandoná-los para se dedicar a um trabalho mais experimental.
O retorno às charges na Folha aconteceu no governo Collor, quando a crise econômica impôs o encerramento da "Chiclete com Banana".
O trabalho de Angeli foi se tornando cada vez mais visceral. Passou a evitar a inclusão de personalidades políticas famosas em suas charges.
Nos últimos anos, vem se dedicando ao desenho, com um traço influenciado por George Grosz e outros expressionistas alemães. Neles, encontra o tom que representa o peso da sociedade do século 21. "Eu não poderia desenhar personagens dos anos 1980 na realidade de hoje."
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Confira especial sobre o cartunista em folha.com/angeli-40