Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Crítica musical Elenco impulsiona montagem museológica do musical 'Hair' "Hair" virou uma espécie de lenda da era dos hippies malucos para o divertimento das plateias neoconformistas ALCINO LEITE NETOARTICULISTA DA FOLHA O mundo estava em convulsão em 1968. Quando "Hair" chegou à Broadway naquele ano, foi como se o ideário da contracultura estivesse prestes a destruir a caretice do showbiz americano. No Brasil, estreou em 1969, nos anos de chumbo da ditadura, que liberou até mesmo, por um minuto, a famosa cena de nudez do musical. As contestações de "Hair" pareciam simples divertimentos, em face da guerra política que se travava nas ruas do país. O tempo passou, e os sonhos da contracultura caíram todos por terra: a "revolução sexual" não venceu os tabus e o casamento, o "flower power" não extinguiu a intolerância, a vida comunitária não se impôs à propriedade privada, o showbiz encaretou de novo, assim como o conjunto das sociedades etc. etc. "Hair", que no passado provocava o público com sua rebeldia e com seus apelos utópicos, se transformou numa espécie de lenda da era dos hippies malucos para o divertimento das plateias neoconformistas. Do musical, sobrou muito pouco: algumas boas canções e o glamour museológico. SEM INTERVENÇÃO A fim de reavivar "Hair" politicamente para a nossa época, seria preciso uma forte intervenção crítica do encenador, que apontasse a perseverança de certas ideias contraculturais no presente -no movimento Ocupe Wall Street, por exemplo. Mas talvez seja excessivo pedir tal coisa à montagem em cartaz em São Paulo, sob o comando da aplicada, mas convencional, dupla Charles Möeller-Claudio Botelho. Embora empacado no passado e com intenso cheiro de naftalina, o espetáculo é eficiente. Botelho, que fez a versão das músicas para o português, acertou a mão na maior parte delas. O diretor Möeller imprimiu um ritmo energético e envolvente. Foi ajudado pela coreografia de Alonso Barros e pelo jovem elenco, entusiasmado e carismático, que funciona melhor em conjunto do que nos solos. Vale a pena ressaltar a participação de um grupo de atrizes e atores negros, coisa rara de ser vista nos palcos de São Paulo.
HAIR |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |