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Crítica Drama

Filme retrata preconceito de forma singela

Indicado ao Oscar deste ano em três categorias, "Histórias Cruzadas" explora relação entre empregadas e patroas

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

"Histórias Cruzadas" vem se somar a uma série de filmes hollywoodianos que tratam o preconceito racial de maneira inofensiva e, por seu bom comportamento, são agraciados com algumas indicações ao Oscar, em geral nas categorias de atuação.

Nessa lista, estão "Conduzindo Miss Daisy" (1989) e "Tomates Verdes Fritos" (1991), entre outros. Filmes que arrancam lágrimas, mas não provocam incômodo; que colocam um band-aid para esconder o machucado, mas preferem não tratá-lo a fundo para não arder. Baseado no best-seller de Kathryn Stockett e dirigido por seu amigo Tate Taylor, "Histórias Cruzadas" fala da relação entre empregadas negras e patroas brancas e seus filhos no Mississippi dos anos 60, marcado por segregação racial e luta por direitos civis.

Diante do cenário de maus tratos e humilhações perpetrados por familiares e amigas, uma garota branca esclarecida, Skeeter (Emma Stone), decide romper com a cadeia do preconceito.

Em segredo, convence duas empregadas de amigas -a resignada Aibileen (Viola Davis) e a atrevida Minny (Octavia Spencer)- a lhe contar suas histórias de vida para um livro que terá nomes falsos e assinatura anônima -para evitar que sofram as consequências da rebeldia.

Os adjetivos usados acima -"esclarecida", "resignada" e "atrevida"- não estão aí por acaso. Eles mostram que "Histórias Cruzadas" prefere trabalhar com estereótipos raciais familiares aos frequentadores de cinema.

E prefere sugerir como solução para os conflitos não o enfrentamento aberto, mas a união silenciosa entre a caridade da patroa e o voluntarismo da empregada.

"Histórias Cruzadas" tem, de fato, belas e "oscarizáveis" atuações de Davis e Spencer e um par de sequências pungentes sobre o racismo que se esconde no cotidiano doméstico, como as cenas em que as empregadas são proibidas de usar o banheiro da patroa.

O filme tem ainda o mérito de não se desviar de um cruel paradoxo: o fato de que crianças brancas cuidadas amorosamente por babás negras não farão nada para interromper o ciclo de preconceito quando virarem adultas.

Um paradoxo que fala não só do Mississippi dos anos 60, em que a discriminação era lei, mas também do Brasil do presente, onde ainda se afirma que não somos racistas.

É uma pena que "Histórias Cruzadas" trate desses temas ainda espinhosos e urgentes privilegiando sempre seus aspectos sentimentais e pitorescos- de forma que até uma cena de escatologia, fundamental para a trama, acaba se tornando singela.

HISTÓRIAS CRUZADAS

DIREÇÃO Tate Taylor

PRODUÇÃO EUA, 2011

COM Viola Davis, Emma Stone e Octavia Spencer

ONDE nos cines Playarte Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito

CLASSIFICAÇÃO 10 anos

AVALIAÇÃO regular

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