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Arquiteto vê arranha-céus como aspiração humana

Para Daniel Libeskin, superpopulação exige verticalização das cidades

Projeto de clínica para tratamento de estresse pós-traumático em Israel é foco da palestra do polonês, hoje no Rio

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

"A questão não é a altura dos edifícios, mas o tamanho da aspiração que representam", diz Daniel Libeskind.

Defensor dos arranha-céus, o arquiteto incluiu cinco em seu projeto de reurbanização do Marco Zero, local dos sete edifícios destruídos nos atentados do 11 de Setembro em Nova York. Mas, observa, igualmente importante é que metade do terreno foi reservado a espaços públicos.

Filho de poloneses sobreviventes do Holocausto e projetista do Museu Judaico de Berlim, Libeskind, 65, é autor da torre residencial Vitra, em construção no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo.

Em 2009, participou sem sucesso do concurso para o projeto da sede do Museu da Imagem e do Som, no Rio. Ele fala ao público hoje à noite, no Leblon, no Midrash Centro Cultural.

Folha - Qual o objetivo de sua viagem ao Brasil?

Daniel Libeskind - Vou apresentar o projeto do Lar para o Amanhecer de Esperança, que fiz para o hospital Sheba, em Tel Aviv. É um novo paradigma para instalações que receberão pacientes com estresse pós-traumático, uma questão cada vez mais atual. Será um edifício relacionado a tranquilidade, cura, música, futuro, reflexão.

Vou apresentá-lo no contexto da linguagem da arquitetura, uma abordagem cultural da construção, não só tecnológica ou estética.

Pacientes poderão ser israelenses ou palestinos. O que admiro no Sheba é ser um hospital sem fronteiras.

Planeja um projeto para o Rio?

Adoraria construir no Rio. É uma cidade de tirar o fôlego, que está se desenvolvendo e precisa de novas instalações.

Oscar Niemeyer gosta de curvas, e o sr. parece preferir ângulos pontiagudos. Por quê?

Não é bem assim. Você não pode discutir arquitetura como discutiria uma colher e uma faca. Não se trata de ângulos ou curvas, mas da ideia de um edifício e sua função.

Já criei edifícios com formas arredondadas e com ângulos radicais. A questão é para que ele servirá e por que deve ter tal formato.

Sei que Niemeyer baseou a maioria de suas construções em figuras femininas. Mas na minha visão há mais coisas na vida do que isso.

O sr. é defensor dos arranha-céus. Muitas torres hoje se propõem a condensar uma cidade, com andares para trabalhar, morar, fazer compras. Isso não tira a vida das redondezas?

Eu acho que, dada a explosão populacional e o esgotamento dos recursos naturais, temos que controlar o crescimento urbano. Não há outra forma de fazê-lo senão verticalizando as cidades, construindo edifícios altos.

Claro que a função da arquitetura é projetá-los de maneira bonita, inventiva, que tenha em mente os seres humanos, e não metal e vidro.

A questão não é a altura do edifício, mas o tamanho da aspiração que ele representa. Essa é a diferença entre construir arranha-céus que não são bem-sucedidos e arranha-céus que dão uma contribuição positiva para as pessoas e para a cidade.

Uma das críticas feitas hoje a cidades modernistas, como Brasília, é que elas não têm vida nas ruas...

O modelo está ultrapassado. Os arranha-céus do Marco Zero somarão 9 milhões de metros quadrados, mas minha intenção foi não só criar belos edifícios mas também boas ruas, com luz, sem vento, o tipo de riqueza de vida urbana das grandes cidades.

Como o seu projeto do Marco Zero traduz isso?

Claro que milhares de pessoas vão trabalhar naqueles edifícios incríveis, mas também pensei nas pessoas que estarão nas ruas, no metrô. Por isso metade do espaço disponível será público.

Essa é a arte das cidades, não fazer apenas edifícios glamourosos para poucos, mas algo fantástico culturalmente para todos.

No Brasil existe enorme deficit de moradias para os pobres. Como lidar com isso?

Não se pode tirar dos cidadãos os direitos de acesso a moradia, a serviços, à cidade. Em muitos lugares, áreas degradadas se transformaram, com planejamento e justiça social, em bairros com vitalidade. Não vejo por que no Brasil seria diferente.

DANIEL LIBESKIND

QUANDO hoje, às 20h30

ONDE Midrash Centro Cultural, r. General Venâncio Flores, 184, Leblon, Rio

QUANTO R$ 30

TRANSMISSÃO pela internet, ao vivo, no site www.midrash.org.br

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