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Ecos de 22 em 2012 dividem especialistas

DE SÃO PAULO

Para que serve o modernismo? Ou melhor, o modernismo acabou? Como visualizar os ecos da Semana de 22 nos dias de hoje?

Para o professor Eduardo Jardim, da PUC do Rio, organizador da coleção Modernismo +90, que consiste em 11 novos títulos editados pela Casa da Palavra, "o modernismo começa nas duas últimas décadas do século 19 e termina nos anos 1970, com o cinema novo, com o Teatro Oficina -que recuperou Oswald de Andrade-, com Caetano e a Tropicália, com Hélio Oiticica. São cem anos".

Marcos Augusto Gonçalves enxerga na antropofagia a chave da questão. "Mário e Oswald foram os fundadores de um novo momento. É a partir de 22 que nasce a ideia central de uma cultura brasileira transcendente, que resultaria no 'Manifesto Antropofágico', em 1928. A antropofagia está viva entre nós até os dias de hoje".

Para Sevcenko, é só no período entre os anos 50 e 70 que a arte moderna revolucionária encontra ressonância no Brasil. O engajamento dos neoconcretos é o melhor exemplo. Mais do que na Semana de 22, estes bebem na fonte da vanguarda europeia encabeçada por artistas como Picasso e Duchamp.

"A revolução ocorrida na Europa no começo do século passado ainda é o nosso horizonte cultural. Ela nunca foi ultrapassada, e sim sufocada. Nos tempos atuais, o que predomina é o conservadorismo", avalia.

UFANISMO TOLO

"Abaporu", de Tarsila do Amaral, foi vendida por US$ 1,25 milhão em 1995, e teve seu seguro renovado recentemente por US$ 40 milhões. Por "Antropofagia", também de Tarsila, já se ofereceu US$ 35 milhões.

O alto valor monetário atingido pelas obras sugere uma escalada da arte modernista brasileira. Mas sem ilusões: "Deixemos de ufanismo tolo. O Brasil celebra sua Semana. Porém, a meu ver, ela é para nós um marco, um símbolo", afirma Aracy Amaral, professora da Faculdade de arquitetura da USP e autora de "Artes Plásticas na Semana de 22" (editora 34).

"O que é significativo são as obras dos artistas modernistas que se criam nos anos que se seguem", acrescenta.

"Mas cogitar que esse marco tivesse tido repercussão na América Latina ou fosse precursor de movimentos em outros países é sonhar com algo inexistente. Nosso vizinho Uruguai, por exemplo, teve três modernistas muito mais marcantes como exportação de talentos: Figari (1861-1938), Barradas (1890-1929) e Torres Garcia (1874-1949) ostentam uma tríade invejável", conclui.

(MORRIS KACHANI)

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