Crítica moda

Marc Jacobs brilha com desfile sobre "Oliver Twist" na Semana de Nova York

Ao lado de Miuccia Prada, Marc Jacobs é o hoje o maior criador de imagens da moda mundial, como comprovou o desfile do estilista anteontem durante a Semana de Moda de Nova York.

Voltemos um pouco no tempo fashion. No último ano, por conta do casamento real, as figuras de princesas e rainhas dominaram o imaginário da moda.

Mas nessa história de princesa estava faltando um elemento essencial: a bruxa má.

O cenário do desfile de Jacobs lembrava ruínas mal-assombradas. O tema da coleção era "Oliver Twist", clássico de Charles Dickens sobre um órfão que vai do trabalho infantil ao banditismo numa Inglaterra miserável.

E o que têm a ver bruxas e Oliver Twist? Tudo.

As modelos surgem no desfile cobertas de trapos grunge-chique e sobreposições e usam chapéus peludos, do tipo conhecido como chapéu de "cafetão".

Mas o chapéu é uma adaptação do personagem Fagin, que no livro não agencia prostitutas, mas meninos trombadinhas. Fagin, por sua vez, foi criado por Dickens como uma versão criminosa e "bruxificada" da figura do judeu.

O mito do judeu ardiloso (o próprio Jacobs é de família judia) vem sendo repetido no imaginário mundial como uma das maiores bruxas más de todos os tempos. Dickens foi inclusive acusado de antissemitismo por conta do personagem.

As bruxas de Jacobs usam sapatinhos de peregrinos, os ingleses que vieram para a América, romperam com a igreja britânica e foram uma das células que deram origem aos Estados Unidos.

Assim, Jacobs faz uma farofa genial de Fagin com a imagem muito atual do judeu americano, essa figura sempre culpada pelas crises do capitalismo mundial.

E mais, o apresenta como um herdeiro bastardo da realeza britânica, mantida com a corrupção da classe operária (como não lembrar dos riots em Londres em contraponto ao conto de fadas de Kate Middleton?).

Os desfiles de Jacobs são mais do que sequências de roupas. O vigor criativo deste estilista parece seguir a célebre frase do órfão Oliver Twist que, com fome, ousa dizer, para horror de seus exploradores: "Senhor, quero um pouco mais".