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Todos os homens

Pinacoteca abre hoje ampla exposição de Giacometti, famoso por suas esculturas esguias

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Esculturas de Alberto Giacometti em mostra na Pinacoteca do Estado de SP
Esculturas de Alberto Giacometti em mostra na Pinacoteca do Estado de SP

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Giacometti foi um crânio e uma língua. Em duas obras que chamou de autorretrato, o artista desenhou seu rosto deixando ver por baixo a estrutura óssea comum a todas as faces e esculpiu uma língua da altura de um homem.

"Eu tinha a impressão de que ela era parecida comigo", escreveu o suíço Alberto Giacometti sobre uma de suas primeiras peças. "Era decepcionante ver a forma que eu tinha conseguido dominar acabar reduzida a tão pouco."

Decepção, ou melhor, perda é uma sensação que parece sempre atrelada à obra desse artista morto aos 64 anos em 1966. Ele agora é tema de uma das maiores mostras do ano, que abre hoje na Pinacoteca do Estado.

Giacometti é o homem por trás das figuras esguias, fiapos de forma humana que parecem brotar de massas sólidas e se esticar, frágeis, rumo a um firmamento incerto.

Ele entrou para a história da arte como um escultor de rudes arquétipos humanos, homens que são ao mesmo tempo todos os homens, acúmulos de visões.

"Ele junta todas as caras que vê numa só", descreve Véronique Wiesinger, curadora da mostra. "São visões construídas a partir de vários momentos, de rostos que desfilam pela memória dele."

Entre eles, estava o existencialista Jean-Paul Sartre, que descreveu as esculturas de Giacometti como retratos de todos os homens. Sua filosofia também influenciou o escultor a trabalhar de forma obsessiva a figura humana -rostos, homens e mulheres.

Uma dessas mulheres foi sua amante Isabel Lambert, que também posou para Francis Bacon. Mas, na escultura de Giacometti, ela não passa de uma lasca de gesso, menor que um dedo mínimo.

"Ela acabou sendo o protótipo de todas as outras mulheres que ele esculpiu", diz Wiesinger. "A pose é neutra, o rosto não tem expressão."

Esse minimalismo contrasta com as dimensões superlativas que a obra de Giacometti atingiu no mercado. Uma de suas esculturas foi vendida há dois anos por cerca de R$ 187 milhões.

Na mostra paulistana, suas obras estão asseguradas em mais de R$ 720 milhões e precisaram até de escoltas armadas nos deslocamentos.

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