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Crítica documentário Filme vê desencanto de jovem putinista 'O Beijo de Putin' mostra como informação faz fervorosa partidária do governo mudar de lado O filme tem o mérito de discutir um tema delicado, mas o viés partidário adotado termina por impor um discurso INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA Como documentário político, "O Beijo de Putin" segue uma estratégia interessante, ao tomar como objeto a trajetória de Masha Drakova, uma fervorosa partidária Vladimir Putin e quadro relevante do Nashi, movimento de juventude putinista. É Masha, no mais, que dará o famoso beijo no homem mais poderoso da Rússia. Aos poucos, porém, Masha se desencanta com o movimento. Começa por não concordar com a brutalidade de seus líderes. Com o tempo, torna-se jornalista, toma conhecimento do brutal espancamento de um colega e passa, aos poucos, à oposição. A horas tantas a veremos na rua exigindo investigação sobre a repressão violenta à oposição russa. Tudo isso é, em linhas gerais, de conhecimento público, com exceção da história de Masha. E é justamente ao passar do Nashi à oposição que o documentário dirigido por Lise Bike Petersen escapa ao trivial do documentário político, em geral dirigido apenas aos aderentes de uma determinada causa. Masha não é apenas um caso exemplar: é a demonstração de que, com alguma informação, pode-se mudar de opinião, pode-se ao menos aceitar um debate sobre questões políticas. Dito isso, é preciso convir que observar os fatos envolvendo a Rússia a partir de uma perspectiva ocidental pode ser uma maneira de vedar esse país à compreensão do espectador, em lugar de alargá-la. Este documentário dinamarquês postula, a rigor, que na Rússia dos dias atuais não existe democracia. Pode ser. Ou melhor: deve ser. Convém, no entanto, convém indagar: até que ponto seria a democracia um valor capaz de despertar grandes paixões populares num país que passou dos czares a Stalin e daí a Putin? Ou ainda, num lugar que viveu seu momento democrático (da glasnost a Boris Yeltsin) como experiência real de fracasso. IMPOSIÇÃO DO DISCURSO Como quase todo filme político, "O Beijo de Putin" tem o mérito de abrir discussão sobre um assunto delicado e também introduzir alguns dados relevantes. Como, porém, quase todo filme político, o viés partidário que adota termina por impor um discurso determinado em detrimento de outro. Não se trata, claro, de aderir ou mesmo de tolerar as brutalidades de Putin e de seus partidários. Mas sem compreender que o nacionalismo russo tem raízes distantes e profundas não se compreenderá, também, a força ditatorial de seu governante mais poderoso do século 20. Basta ver, na sequência talvez mais chocante (portanto, a melhor) do documentário, como certas manifestações de rua lembram, assustadoramente, as dos tempos de glória do comunismo. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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