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Crítica Artigos 'Occupy' discute dilemas do movimento Coletânea faz um retrato em grande-angular dos protestos que surpreenderam o mundo ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO Desemprego em alta, salários em queda. Governos salvando bancos e arrochando populações. Escassez de democracia e desencanto com a política partidária. Com esse pano de fundo, multidões foram às ruas em cidades tão díspares como Cairo, Atenas, Madri, Nova York, Santiago e Londres. Buscando analisar esses movimentos distintos, filósofos, sociólogos, historiadores e jornalistas de esquerda (Tariq Ali, David Harvey, Slavoj Zizek, entre outros) escrevem em "Occupy". São 11 textos curtos e engajados. Tentam identificar conexões entre os protestos e discutir os seus dilemas futuros. Muitos foram feitos no calor das manifestações e guardam o tom apaixonado dos discursos. A maioria já havia sido editada antes em sites, blogs e outras publicações. Mas a falta de ineditismo não tira o interesse da coletânea, que também traz fotos e pôsteres dos atos públicos. Da Universidade da Califórnia, Mike Davis fornece alguns dados: 4,5 milhões de empregos industriais perdidos nos Estados Unidos desde 2000; metade do patrimônio líquido dos afro-americanos evaporou desde 1987 -para os latinos, a perda foi de dois terços. Davis se lembra de quando ele planejou, em 1965, na esteira do movimento pelos direitos civis nos EUA, a invasão do prédio do Chase Manhattan Bank, em Nova York, então tido como "parceiro do apartheid" sul-africano. Sua comparação: "Nossa ocupação há 46 anos foi uma incursão de guerrilheiros; a de agora é uma Wall Street sob o cerco dos liliputianos". Para o sociólogo Immanuel Wallerstein, doutor pela Universidade Columbia, é preciso pensar nos desdobramentos dos protestos: "Para transformar o mundo, a esquerda mundial precisará de um grau de unidade política que ainda não alcançou", escreve. Aí entra o debate sobre participação em partidos e eleições. Afinal, apesar da multidão na praça, a direita ganhou na Espanha. No mesmo diapasão, o filósofo Vladimir Safatle, colunista da Folha, afirma: "Talvez os manifestantes tenham entendido que a democracia parlamentar é incapaz de impor limites e resistir aos interesses do sistema financeiro". No entanto, argumenta que esse cansaço em relação aos partidos convencionais "não é sinal do esgotamento da política", mas de "uma demanda de politização da economia". No conjunto, o livro tenta fazer um sobrevoo nos protestos, mas carece de informações mais detalhadas sobre a diversidade enorme entre os movimentos. Não analisa o perfil dos manifestantes nem de suas relações com partidos e com movimentos sindicais. Na Grécia e em Portugal, por exemplo, é forte a presença de partidos comunistas. No Egito, a Irmandade Muçulmana é personagem essencial. Nos EUA, uma ação conjunta entre o Occupy e os sindicatos paralisou o porto de Oakland (Califórnia). A obra não mergulha em nada disso. A coletânea pode ser considerada incompleta, mas tem o mérito de apontar as principais linhas para fazer um retrato em grande-angular dos movimentos que surpreenderam o mundo. E que prometem continuar, apesar das desocupações e desmobilizações. Basta ver o que aconteceu na Espanha no fim de março. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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