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Análise

Paulínia perde a chance de criar produção industrial

Desmantelamento do polo acontece na contramão do aumento de demanda

O que se perde é a possibilidade de escala, de ter dinheiro, técnicos e material humano em um só lugar

ANDRÉ STURM
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última sexta, tivemos uma triste notícia, com o anúncio, pelo atual prefeito de Paulínia, José Pavan Júnior, da suspensão do festival de cinema neste ano.

Triste porque a decisão, na verdade, significa o fim de uma iniciativa brilhante. E significa uma repetição da falta de visão, do imediatismo e do populismo mais medíocre. É uma perda grande.

O primeiro benefício da iniciativa da gestão anterior foi colocar a região em toda a imprensa do Brasil. Uma cidade antes desconhecida, cuja arrecadação dependia fundamentalmente do petróleo, se tornou "celebridade".

Apesar de recente, a implementação do projeto estava adiantada. Os produtores de cinema já tinham Paulínia em seus planos. No ano passado, amigos comentaram a ideia de abrir filiais de empresas na cidade para desenvolver não apenas filmes mas o audiovisual como um todo.

A edição de 2011 do festival teve a melhor seleção de filmes inéditos brasileiros.

O resultado, que, em poucos anos, já se mostrava concreto, ganhava neste momento novos motivos para frutificar. A aprovação da lei que criou as cotas de produção na TV paga vai gerar uma grande demanda de conteúdo.

Um polo com infraestrutura decente, aeroporto próximo (pois Paulínia é ao lado de Campinas), boas estradas e clima favorável tinha tudo para se firmar em definitivo.

Hotéis e restaurantes abririam na região. Outros serviços requeridos para os bastidores de um filme (marcenaria, elétrica, figurinos) também: haveria mais negócios, empregos e impostos sendo pagos. O turismo cresceria muito: com as filmagens e a presença de artistas, a cidade se tornaria destino de gente das localidades vizinhas.

A cidade teria, enfim, receita gerada em diversas origens: benefícios que a atividade cinematográfica traz.

O cancelamento do festival é somente a ponta do iceberg que afunda todo um projeto. Já não se investem os recursos; a escola não oferece mais cursos de formação, limitando-se a pequenas oficinas.

Os produtores acabarão conseguindo recursos financeiros -em outro local ou de outro modo. O que se perde é a possibilidade de ganhos de escala; de ter dinheiro, técnicos e material humano em um só lugar, gerando não só receita para a cidade, mas economia para a produção.

A maior perda é essa: a possibilidade de produção em linha, de forma industrial.

O desmantelamento de um polo promissor anula todas essas possibilidade. E a cidade de Paulínia fica sem um projeto estrutural, que poderia mudar sua história e também a de sua população.

ANDRÉ STURM é cineasta e diretor-executivo do MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.

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