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Crítica / Música Erudita

Montagem histórica abre festival de ópera

Obra-prima que Alban Berg deixou inacabada, "Lulu" conta história de sexo e crime com música dodecafônica

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

São Paulo, 1982: tendo o barítono brasileiro Carmo Barbosa como protagonista, o Theatro Municipal apresentava "Wozzeck", ópera atonal do austríaco Alban Berg (1885-1935); em um papel coadjuvante estava o tenor Luiz Fernando Malheiro.

Manaus, sexta-feira passada: Malheiro regeu a Amazonas Filarmônica na primeira apresentação integral no país de "Lulu", obra-prima que Berg deixou inacabada (Friedrich Cerha completou o terceiro ato em 1979).

Dessa vez não foi possível contar com elenco 100% brasileiro: as alemãs Anke Berndt e Ulrika Tenstam arrasaram como Lulu e Condessa, mas os locais Juremir Vieira e Pepes do Valle também brilharam como Alwa e Schigolch.

No palco do Teatro Amazonas, sexo -ressaltado pela direção de Gustavo Tambascio- e morte sob o som dodecafônico de Berg.

Visualmente o primeiro ato foi o mais original, uma clareza estática e limpa entremeada pelo rastejar grotesco de animais pantanosos.

Berg segura o drama com a forma musical: no primeiro dueto-sonata entre Lulu e Dr. Schon (interpretado por Matteo de Monti), a tensão aumenta com a instabilidade e, logo depois, a flauta retoma a frase aguda de Lulu.

A obra é um espelho perfeito, com a música do filme mudo virando tudo pelo avesso. E quando, ao final, Lulu se prostitui em Londres, seus três clientes são interpretados pelos mesmos cantores que haviam sido os maridos.

Foi o filósofo Thedor W. Adorno (1903-1969) quem disse que uma mescla de ternura, niilismo e confiança define a arte de Berg: "Cumplicidade com a morte, urbana gentileza para com o seu próprio extinguir-se são características de sua obra".

Os 30 anos que separam as montagens das duas óperas de Berg podem parecer uma eternidade. Manaus tem, contudo, outro tempo: na saída do teatro, o som do bar da praça tocava "Clair", sucesso de 1972 na voz do cantor pop Gilbert O'Sullivan.

LULU
QUANDO 28/4, às 20h
ONDE Teatro Amazonas (Lgo. de São Sebastião s/n, Manaus, tel. 0/xx/92/3232-1768)
QUANTO R$ 5 a R$ 70
AVALIAÇÃO ótimo

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