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Teatro

Peça leva mito de Prometeu para as ruas

Inspirado em texto de Ésquilo, "Barafonda" será encenado na região da praça Marechal Deodoro, em São Paulo

Espetáculo da Cia. São Jorge propõe interação com os moradores para retratar a história do bairro Barra Funda

GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Prometeu é libertado de suas correntes em pleno Minhocão. Em "Barafonda", nova peça da Cia. São Jorge de Variedades, que estreia no próximo dia 4, o personagem extraído do clássico de Ésquilo se recusa a abandonar sua montanha de concreto.

Depois de cerca de 2.000 anos de aprisionamento, habituou-se à imobilidade.

O evento improvável no coração de São Paulo se desenrola em dois quilômetros de percurso pelas ruas do bairro da Barra Funda e vem reunindo dezenas de espectadores durante os ensaios.

Alguns assistem atentos às cenas de forte impacto visual, que mais se parecem instalações urbanas. Outros interagem com o espetáculo de forma mais espontânea, como um pedestre que surge da avenida, desvencilha-se de sua camisa e dança aos pés de Prometeu.

Durante o percurso, um morador da Barra Funda abre sua barbearia ao público, dividindo memórias pessoais e de habitantes ilustres do bairro. Mais adiante, no açougue, o vendedor pesa o pedido de um cliente enquanto atores postam-se ao lado das carnes.

"Barafonda" é um misto de teatro e intervenção urbana, festa e rito, ficção e realidade. Radicaliza a pesquisa do grupo em obras como "Quem Não Sabe Mais Quem É, o Que É e Onde Está, Precisa se Mexer", que venceu o Prêmio Shell em 2009 na categoria pesquisa e criação.

"Estamos ainda mais misturados na cidade e mais expostos", diz Patrícia Gifford, atriz da São Jorge.

A peça amplia a trilha aberta por José Celso Martinez Corrêa desde 1967, com "O Rei da Vela". O diretor do Teatro Oficina foi precursor ao romper os limites do palco e celebrar o teatro como Carnaval.

"Nossa intenção não é colocar panos quentes nas contradições da metrópole, mas expor as incoerências na festa. Isolamento gera impotência", atesta Gifford.

Além de se apropriar de "Prometeu Acorrentado" para lançar um olhar crítico sobre o progresso, "Barafonda" celebra as festividades de Dionísio, inspirando-se em "As Bacantes", de Eurípides, e em histórias reais dos moradores da Barra Funda.

O coro formado por atores e espectadores relaciona-se com a cidade de modo inusitado, como quando participa de uma roda de samba numa rua deserta, que parece perdida na contemporaneidade.

"Sentimos nostalgia da época em que a rua era espaço de conversa, de partida de futebol, de roda de samba", diz a atriz Georgette Fadell.

BARAFONDA
QUANDO sextas, às 15h, de 4/5 a 22/6; sábados, às 15h, de 19/5 a 16/6
ONDE pça. Marechal Deodoro (cruzamento da av. Angélica com a r. das Palmeiras; tel. 0/xx/11 3824-9339)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 10 anos

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