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John Cage explorou dimensões físicas do som e da música

Partituras expostas no MAM mostram aspecto visual de sua obra e artistas da Bienal exploram seus conceitos

Paulo Vivacqua fará performance no Rio em homenagem a Cage e estará na Bienal de São Paulo em setembro

DE SÃO PAULO

Quando John Cage viu a série de telas brancas pintadas por Robert Rauschenberg no começo dos anos 1950, pensou em criar a primeira obra silenciosa. Ele chamou aqueles quadros vazios de "aeroportos de luz e sombra".

De certa forma, a duração que determinava para suas composições vazias ou cheias de improvisos e ruídos acidentais pretendia ser um recorte físico no espaço, o que os críticos chamariam depois de "música como território".

"Ele recorta o tempo como se fosse uma escultura", compara Vera Terra, que já tocou com Cage e organiza a mostra em homenagem a ele que abre hoje no MAM do Rio. "A obra de Cage tem essa plasticidade do tempo."

Esses aspectos plásticos aparecem em suas partituras na forma de rabiscos, transparências e notações nada convencionais, como orientações para pausas, uso de instrumentos aleatórios ou até mesmo o som do rádio.

"Tem uma partitura feita de linhas, que representam silêncios, e números, que são os lugares no dial do rádio para você sintonizar", descreve Terra, que exibe uma série desses documentos no MAM.

Também estão lá obras de outros artistas que conviveram com o músico: os ecos visuais de sua obra sonora.

Josef Albers, alemão que se radicou nos EUA, e Rauschenberg, um dos nomes centrais da arte pop, fizeram com Cage um dos primeiros happenings na história da arte em 1952, com dança, música e performance no refeitório da escola norte-americana Black Mountain.

SOM COMO ESPAÇO

Paulo Vivacqua, discípulo de Cage, também deve fazer uma performance no MAM e estará na próxima Bienal de São Paulo com um trabalho que mistura imagens projetadas de objetos e o som das palavras associadas a eles.

"Queria criar um espaço onde pudesse desenvolver o som como lugar, um gerador de estados e emoções", diz Vivacqua. "Num concerto, a relação entre o que se vê e o que se ouve é problemática, mas, nas artes visuais, a música sai da representação e ganha um outro contexto."

Música ou ruído, na verdade, ocupam ali o mesmo plano, a ideia de Cage de explorar toda a potência do som.

Maryanne Amacher, outra artista com ampla representação na próxima Bienal, foi na mesma direção. Numa de suas obras mais célebres, a artista espalhou microfones pela cidade de Buffalo, nos Estados Unidos, e transmitiu pelo rádio o som captado por eles ao longo de 28 horas.

Nas palavras do curador Luis Pérez-Oramas, a obra de Amacher "não procede do trabalho de Cage", mas "comparte o mesmo universo, ou seja, da ideia de arte também como um espaço de comunicação".

(SILAS MARTÍ)

JOHN CAGE
QUANDO abre amanhã, às 16h; de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das 12h às 19h; até 20/5
ONDE Museu de Arte Moderna do Rio (av. Infante Dom Henrique, 85, tel. 0/xx/21/2240-4944)
QUANTO R$ 8

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