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Crítica / Biografia

Reedição de obra sobre poeta americana traz reflexão sobre o trabalho biográfico

MARINA DELLA VALLE
DE SÃO PAULO

O fato: Sylvia Plath, poeta norte-americana ainda pouco conhecida, comete suicídio aos 30 anos, em 1963, deixando os poemas do livro responsável por sua fama póstuma, "Ariel".

Mas é na aura em torno dele que a jornalista Janet Malcolm, 77, finca as garras em "A Mulher Calada", reeditado agora em versão de bolso pela Companhia das Letras, após alguns anos esgotado.

Radicada na Inglaterra, Plath foi casada por seis anos com o poeta inglês Ted Hughes (1930-1998), com quem teve dois filhos.

A separação foi turbulenta. Havia outra mulher, todo um drama que gerou uma barafunda de biografias, memórias, artigos acadêmicos e jornalísticos, uns conflitantes, outros um tanto agressivos.

Malcolm consegue desfazer o novelo de maneira clara, mas não exatamente simples. Em seu livro, faz uma espécie de biografia das biografias de Plath e oferece uma reflexão interessante sobre as dificuldades e armadilhas do trabalho biográfico.

Bagagem para analisar o tema não lhe falta: autora de "Nos Arquivos de Freud" (Record, 1986), foi alvo de uma ação milionária movida pelo psicanalista Jeffrey Masson, que dizia ter sido caluniado e que falas atribuídas a ele no livro haviam sido fabricadas.

A decisão foi favorável a Malcolm, que, após a agrura, escreveu "O Jornalista e o Assassino" (Companhia de Bolso, 2011), no qual explora os limites de reportagens biográficas a partir da relação do jornalista Joe McGinniss com Jeffrey MacDonald, preso pelo assassinato da família.

McGinniss conseguiu acesso irrestrito ao biografado dando a entender que ele seria retratado de maneira positiva, mas o descreveu como um sociopata narcisista.

É natural que o caso das biografias de Plath tenha chamado a atenção da jornalista: a disputa pela figura da poeta suicida, adotada pelo movimento feminista em seu começo estridente, é renhida.

A família de Hughes, que herdou o espólio de Plath, não permite o uso de originais em trabalhos que julgue desfavoráveis a ele. Por décadas, solicitou modificações em publicações. Alguns autores reagiram, tornando públicas as interferências.

Malcolm entrevista os principais envolvidos (Hughes, que jamais falou do assunto, aparece em carta) e rastreia o curso e as consequências dessa disputa feroz pela memória de uma poeta morta, que não pode protestar ao ser dissecada em público.

A MULHER CALADA
AUTOR Janet Malcolm
TRADUÇÃO Sergio Flaksman
EDITORA Companhia de Bolso
QUANTO R$ 23 (240 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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