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Crítica drama Mesmo apequenando Rothko, peça sobre o pintor surpreende com Bruno Fagundes LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA O drama explicando o inexplicável. "Vermelho", peça de John Logan sobre o pintor Mark Rothko (1903-1970), simula uma resposta a um dos mistérios da arte do século 20. Encenado por Jorge Takla, o texto, mesmo diminuindo o artista, rende um espetáculo vibrante. Logan fabula as circunstâncias que teriam levado Rothko a recuar na venda de uma série de suas pinturas, que decorariam um restaurante sofisticado de Nova York, no fim dos anos 1950. O episódio, que implicou a devolução de US$ 2 milhões (em dinheiro atual) pelo pintor ao seu contratante, tornou-se emblemático da postura radical do artista e foi visto como antecipatório de seu suicídio, em 1970. O dramaturgo, hoje um dos roteiristas mais badalados de Hollywood, se permite engendrar uma resposta possível. Cria o personagem de um jovem assistente, que será o interlocutor de Rothko e permitirá que este revele suas ideias e aflições. O expediente seria inofensivo se não encaminhasse uma tese fechada sobre aquela decisão. Mark Rothko foi um dos pintores mais cultos e espirituais de sua geração. Reduzir sua vida e obra a um momento particular empobrece à caricatura sua trajetória. O artifício de concentrar em dois anos suas opções viscerais ao longo de décadas e construir uma hipótese apaziguadora sobre um ato sacrifical, se "funciona" dramaticamente, insulta sua memória e confunde a natureza de sua arte. A encenação de Jorge Takla compra a proposta de Logan com entusiasmo. Como um profissional maduro, o diretor realiza magistralmente a reconstituição do ateliê de Rothko e dialoga com sensibilidade com a paleta de cores em torno do vermelho, cor cara ao artista. Banha a cena com ondas variantes de luzes rosas e rubras que alcançam grande eficácia poética. Antônio Fagundes encarna esse artista imaginário com competência e paixão, mas quem rouba a cena é seu filho, Bruno Fagundes, que brilha como o assistente. É um encontro feliz, cujo significado inevitavelmente colabora na empatia do público. O espetáculo agrada, mas a sugestão do autor, implícita na forma da trama, minimiza um gesto artístico grandioso e apequena a singular arte de Rothko.
VERMELHO |
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