"Especialista" em monólogos volta a Borges em novo trabalho

Pergunte a um ator o que significa monólogo. A resposta certamente será perigo, abismo ou precipício. A solidão voluntária no palco intensifica a exposição de um intérprete. Costuma ser uma escolha profissional tardia.

João Paulo Lorenzon optou por dominar as maiores dificuldades logo no início de sua trajetória. "Eu Vi o Sol Brilhar em Toda a Sua Glória" é o quinto solo desse jovem ator e diretor de 32 anos -o segundo inspirado no universo do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).

"Pode ter um lado narcísico nessa escolha, mas exponho minhas fragilidades no palco. Os monólogos nascem sobretudo de um desejo de compartilhar obras literárias que me impactaram", diz ele.

O mergulho no universo de Borges e dos monólogos começou graças à avó do ator.

Quando ela morreu, João revirou seus livros na tentativa de encontrar mensagens. Achou o que procurava no conto "Ruínas Circulares", do argentino. No final, lia-se: "Lindíssimo!". "Memória do Mundo" (2007), dirigido por Elcio Nogueira Seixas, nasceu da ânsia em decifrar o entusiasmo da avó por Borges.

Em 2009, o ator viveu o equilibrista retratado por Jean Genet em "O Funâmbulo".

No ano seguinte, Lorenzon transpôs ao palco "De Verdade", romance de Sándor Márai (1900-1989), sob direção de Antonio Januzelli. "O livro tem diferentes vozes. Poderia ter rendido uma obra coletiva, mas queria falar de uma covardia masculina: a dificuldade de se entregar ao amor."

"Água", solo de 2010 ainda em cartaz no Espaço Parahaus, dirigido e representado por Lorenzon, apresenta 20 retratos de amor e desencanto de autores como García Lorca.

O ator vê os monólogos como tentativas de compreender sua vida. "Já fui um poeta cego, alguém tentando se equilibrar, um homem velho e uma pessoa se afogando. São partes de mim."