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Crise financeira se reflete no discurso de filmes em Cannes

"Cosmópolis", novo longa de David Cronenberg, expõe a selvageria do capitalismo a partir de um bilionário

Para diretor, filmagem foi quase como a de um documentário, porque aconteceu durante o Occupy Wall Street

RODRIGO SALEM
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

A crise econômica pela qual o mundo está passando se refletiu em Cannes.

O festival termina amanhã, e o tema preferido dos cineastas na competição oficial foi a ordem financeira do globo, que assusta a Europa e os Estados Unidos.

O assunto voltou à tona com a exibição, ontem, de "Cosmópolis", novo filme de David Cronenberg ("A Mosca"), com o astro de "Crepúsculo", Robert Pattinson.

O longa, uma adaptação fiel do livro de Don DeLillo, é uma fantasia esquizofrênica sobre a selvageria do capitalismo, com Pattinson interpretando um bilionário que tenta escapar do tédio de não sentir mais prazer.

A personificação da ganância dos banqueiros atuais caiu nos ombros de Pattinson, um "vampiro capitalista" no longa. "Quando soube que tinha conseguido o papel, fiquei duas semanas trancado no hotel me preocupando", brinca o ator.

"É muito fácil dizer que ele é um vampiro de Wall Street, mas é uma afirmação superficial", diz Cronenberg, que se defendeu sobre a presença do astro no filme. "Acho que fizemos algo novo e original, não posso ficar pensando em 'Crepúsculo'. Eu estava fazendo 'Cosmópolis'."

A trama segue o ricaço em uma jornada de limusine por uma Manhattan tomada pelo caos e cheia de pessoas revoltadas com o sistema financeiro, um cenário apocalíptico que se tornou realidade.

"Quando eu estava filmando, houve o [movimento] Occupy Wall Street", conta o diretor canadense. "Foi bizarro, porque tudo o que havia no filme estava acontecendo de verdade. Foi como rodar um documentário."

ATITUDE

O cineasta Ken Loach, que mostrou, na terça, seu "The Angel's Share", uma comédia sobre desempregados que roubam um uísque raro, foi mais contundente: "Precisamos olhar para a situação da Grécia e tomar alguma atitude. Estamos chegando a um beco sem saída".

O sentimento é o mesmo de "Reality", uma fábula realista sobre um homem (Aniello Arena) que acha que a solução para seus problemas financeiros está numa participação no programa de TV "Big Brother".

No francês "Rust and Bone", o diretor Jacques Audiard ("O Profeta") reforça o tema da economia em baixa com o personagem de um ex-lutador de boxe que precisa catar comida no lixo e arrumar vários empregos para sobreviver. "É uma história de amor em tempos de crise", confirma o cineasta.

Até os filmes americanos selecionados entraram no assunto. "Os Infratores" mostra como a Lei Seca afetou famílias do interior e gerou grupos mafiosos que controlam a economia até hoje.

E "Killing them Softly", de Andrew Dominik, é ainda mais claro, utilizando discursos de Barack Obama e o cenário decadente de Nova Orleans em 2008, quando começou a recessão no país.

"Precisamos nos perguntar o que é capitalismo responsável. A crise imobiliária nos EUA foi um escândalo, houve comportamento criminoso e ninguém foi preso", observa o astro Brad Pitt.

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