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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Fotos Karime Xavier/Folhapress
Preta Gil em sessão de fotos, em São Paulo
Preta Gil em sessão de fotos, em São Paulo

PRETA PRADA GUCCI GIL

"E às vezes Miu Miu" - é assim que se define a filha de Gilberto Gil. Ela já morou com o pai de favor depois de vender a casa para quitar dívidas e teve vergonha de seu peso. Mas hoje vive um "conto de fadas" ganhando dinheiro com seus próprios sons, cores -e, agora, formas

Preta Gil costuma dizer que não é mulher de levantar bandeira e que odeia rótulos. Já foi muito criticada e "ridicularizada" por estar fora dos padrões cada vez mais exigentes de beleza que sentenciam: mulher bonita é magra ou magérrima.

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"Gordinha? Sou. Mas e daí? Tenho celulite, mas tenho caráter. Conheço muita mulher que é seca, esquálida, e não tem um pingo de caráter. Minha celulite não mede nada", afirma. "Agora, se me derem paulada, com certeza vou me defender."

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E ela está se defendendo. Aqueles "ratos da internet", como gosta de dizer, que já escreveram em suas fotos na praia "baleia encalha", agora veem a cantora carioca de 38 anos, filha de Gilberto Gil, conquistar espaço no mercado brasileiro de publicidade justamente com suas curvas. Ela será a primeira artista do país a lançar uma coleção de roupas "plus size" (tamanhos grandes) para uma rede de lojas -coisa que acontece há algum tempo fora do país.

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"Antigamente não falariam em mim como padrão de beleza", afirma à repórter Lígia Mesquita. "Agora, estão me dando valor mercadológico. Eu tô desmistificando [o padrão de beleza] e ajudando a mulher brasileira."

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Preta já foi complexada com seu biotipo e tentou emagrecer de todas as maneiras - fez dietas rígidas, lipoaspiração, tomou remédios. Hoje, afirma estar feliz como é. "Topei fazer essa campanha [de roupa] que tem um acordo financeiro bom porque eu queria fazer, é importante. A fonte de renda é o de menos. Minha vontade é que todos lucrem. Quero ouvir menos mulheres dizerem que estão deprimidas porque tomam remédio para emagrecer. Existe uma coisa que se chama biotipo. Eu nunca fui magra. Já fui menos gorda", diz ela, que hoje pesa 84 quilos e mede 1,60 m de altura. Seu manequim é 46.

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A cantora se diverte entre uma foto e outra para a campanha em uma casa no Alto de Pinheiros, em São Paulo, na última quinta-feira. "Ai, que bom que não preciso botar a barriga pra dentro porque sou 'plus size'. Pela primeira vez, não preciso ficar 'fazendo a magra'."

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No fim de julho, além da coleção de roupas inspirada nela, Preta Gil lança seu quarto CD, "Sou Como Sou". O nome é o mesmo de uma das 11 canções do disco, de Alex Góes. Ela canta: "Tem que ser branco/ Tem que ser alto/ Tem que ser magro/ Tem que ter saldo no banco/ Tem que ser hétero/ Tem que ter carro do ano/Sou como sou/ Não quero me encaixar em qualquer padrão/Não preciso ser galã de televisão".

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Com amigos do meio artístico, Preta optou por não convidar ninguém a fazer participação especial. "É difícil ter que escolher. Não quero também nesse momento especial ouvir 'É fácil pra ela convidar a Ivete', sabe? Tenho resquícios dos meus trauminhas. Não foram poucas as pauladas que levei."

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No CD, duas canções a "emocionam" mais. "Mulher Carioca", que o filho, Francisco, 17, fruto do casamento com o ator Otávio Müller, escreveu. E "Praga", que o pai, Gilberto Gil, fez.

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Na canção, Gil fala: "Que a tua boca suja na internet/ Não me alfinete ou canivete nunca mais/ Estou pedindo a Deus/ No meu tablete/ Que delete seus ataques virtuais". A filha conta que achou a letra forte. "Aí, meu pai disse: 'Tô rogando praga mesmo pra esse povo parar de te encher, deixar você ser feliz. Você é uma mulher bonita, talentosa, que faz as coisas'."

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Preta sofreu muitos ataques virtuais quando decidiu processar o programa "Pânico", que a mostrou tomando um caldo na praia de Ipanema, de biquíni. Ficou nove meses sem ir à praia -mas ganhou R$ 100 mil de indenização. "Hoje, a juventude tem voz em demasia. E surgem monstrinhos. O racismo, por exemplo, está com força por causa da quantidade de influências negativas que essa juventude sofre, principalmente por parte dos veículos de comunicação que dão espaço pra 'pseudo-humoristas' falarem atrocidades."

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Uma das produtoras da sessão de fotos lhe oferece um lanchinho. "É perguntar se macaco vai querer banana", responde Preta. Ela come dois cachorrinhos-quentes e pede um café com três colheres de açúcar. "Coisa diet não é comigo."

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Neste ano, ela, que trabalhou em agência de publicidade e foi sócia de produtora, completa dez anos de carreira como cantora - profissão que "morria de medo". Hoje, viaja o Brasil fazendo shows - uma média de 20 por mês. E também tem um bloco de Carnaval, o Bloco da Preta, que arrastou em fevereiro 1 milhão de pessoas.

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"Tudo o que eu conquistei foi no braço. Não teve ninguém que tenha falado: 'Preta é a nova voz, a nova diva'. Conquistei isso dentro de casa, com as pessoas mais próximas. Hoje, meu pai fala: 'Sou pai da Preta Gil'", diz. "A coisa que eu mais lutei na vida foi por respeito, por espaço, reconhecimento. E isso vem do meu público que lota os meus shows. Não posso parar de me apresentar, diminuir o ritmo."

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Ela cantarola versos de um funk -"Ah! Que isso?, Elas estão descontroladas"-e dança até o chão antes de trocar de roupa. No camarim, além de sua bolsa Chanel verde, deixa uma mala de mão Louis Vuitton, onde carrega lingerie, joias e seu perfume. "Sou bem patricinha. Meu apelido é Preta Prata Gucci Gil e, algumas vezes, Miu Miu [risos]", diz, citando grifes.

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"Sou consumista. Compro coisas boas e caras." Há 40 dias, fez uma cirurgia no joelho e teve que ficar em casa duas semanas. "Aproveitei e comprei um carro novo! (risos)." O dinheiro que gasta atualmente, diz, "é mais suado e valorizado. Antigamente, era só compulsão."

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Foi bem nessa fase, lembra, que ela precisou vender seu apartamento para pagar boa parte da dívida de seu cartão de crédito e investir na carreira. "Foi uma fase difícil. Tive que ir morar com meu pai. Eu e meu filho dividimos um quarto por quatro anos."

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Há dois anos, conseguiu comprar um apartamento em São Conrado, no Rio. "Foi muito bom reconquistar minha independência financeira." A cantora não revela quanto é o cachê médio de seus shows. O que ganha é o suficiente para que hoje ela empregue 50 pessoas.

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Em março, Preta fez sua estreia nos cinemas com "Billi Pig", de José Eduardo Belmonte. "Agora, penso em fazer um filme meu. Uma comédia", diz. Comandar uma grande atração na TV, no momento, ela descarta. "Estou focada na minha carreira."

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Essa "virada" em sua vida, afirma, é prazerosa. "Quem me menosprezou, riu...deixa pra lá. Tem uma frase bíblica que diz: 'Os humilhados serão exaltados'. Se existe conto de fadas, tô vivendo o meu!"

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"Sou bem patricinha [...] Sou consumista. Compro coisas boas e caras"

"Quero ouvir menos mulheres dizerem que estão deprimidas porque querem emagrecer"

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