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Crítica drama

Longa flagra lado humano por trás do mito de Violeta Parra

CRÍTICO DA FOLHA

Há algo em "Violeta Foi para o Céu", a cinebiografia da cantora e compositora chilena Violeta Parra (1917-1967), que remete diretamente a "Piaf", o filme sobre a francesa Edith Piaf (1915-1963).

Os desafios de ambas as produções eram de grandeza semelhante: retratar mulheres que não apenas se tornaram mitos musicais, mas também símbolos de identidade de seus respectivos países.

O formato adotado para reconstruir suas biografias foi igualmente parecido: um caleidoscópio de episódios de diferentes períodos, arranjados em um constante vai e vem no tempo.

Em comum ainda, existe o fato de que grande parte da força dos filmes vem da interpretação das protagonistas: a Violeta de Francisca Gavilán não deixa nada a dever em relação a Piaf de Marion Cotillard, premiada com o Oscar de melhor atriz.

Mas o filme do chileno Andrés Wood (do sensível "Machuca") tem uma ou outra vantagem sobre o francês. A principal delas é conseguir transcender, em um número maior de momentos, a armadilha do mimetismo; ou seja, da imitação eficiente, mas muitas vezes mecânica, da realidade retratada.

Em "Violeta Foi para o Céu", não há, por exemplo, o fetiche da maquiagem. Gavilán encarna Parra da juventude até a morte trágica de cara quase sempre limpa, marcando a passagem do tempo mais com as nuances da interpretação do que com os produtos da Lancôme.

Outro mérito de Wood é não tentar aplainar as ambiguidades de Parra para proteger o mito. Ao contrário, sua Violeta é uma contradição ambulante.

Precursora da canção de protesto latino-americana e denunciadora das injustiças sociais, a cantora podia ser por vezes uma figura autocentrada e autoritária.

Mulher de personalidade forte e língua afiada, ela tinha baixíssima autoestima e desmoronava nas brigas de amor. Mãe carinhosa, perdeu uma filha ainda bebê ao deixá-la sob os cuidados de suas outras crianças pequenas enquanto fazia shows.

Diferentemente de Piaf, que cantava não se arrepender de nada, a Violeta que foi para o céu teria muito a lamentar na sua vida -o que a torna um personagem mais humano, sem ameaçar sua dimensão mítica. (RC)

VIOLETA FOI PARA O CÉU
DIRETOR Andrés Wood
PRODUÇÃO Chile/2011
ONDE Cine Sabesp, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom

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