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Crítica Erudito Com Christoph Eschenbach, orquestra apresenta sonoridade quente e madura SIDNEY MOLINACRÍTICO DA FOLHA Quando, na fria noite de segunda-feira, funcionários do Theatro Municipal liberaram o acesso ao público, a Orquestra Sinfônica Nacional de Washington D.C. já estava no palco aquecendo. Em meio ao caos de arpejos e escalas, uma trompa praticava Beethoven, compositor que somente seria tocado no dia seguinte. O programa, que integra a temporada do Mozarteum Brasileiro, trouxe três obras do século 19 apresentadas cronologicamente: as duas primeiras dos franceses Hector Berlioz (1803-1869) e Édouard Lalo (1823-1892), e a terceira do russo Piotr Tchaikovsky (1840-1893). Regida pelo alemão Christoph Eschenbach, a orquestra (fundada em 1931) tem sonoridade madura, quente e compacta, o que a aproxima dos bons grupos europeus de safra mais antiga. Eschenbach é um pianista-regente. Parece dispor de um piano sensível e gigante, que se move no espaço a partir de seu comando. Ligeiramente inclinado à direita, dispõe cellos e contrabaixos na direção de seu braço esquerdo, em diagonal rumo ao fundo do teatro. Ao trazer o som em sentido horário, passa pelos sopros e deixa os segundos violinos bem perto de seu braço direito. Quando precisa de mais canto, volta-se totalmente, como se ele fosse tocar os primeiros violinos. Regeu a abertura "Carnaval Romano" (1843), de Berlioz, como se tocasse uma sonata de Mozart: cortes perfeitos e delineamento das cordas, com destaque para violas e segundos violinos. Segundo afirmou recentemente o violoncelista brasileiro Antonio Meneses, hoje em dia poucos músicos estudam o "Concerto para Violoncelo" (1876), de Lalo, obra delicada e introspectiva, cujas qualidades foram realçadas pela sonoridade escura de Claudio Bohórquez. Se Berlioz havia feito lembrar Eschenbach tocando Mozart, Tchaikovsky remeteu à sua gravação de canções de Schumann, ao piano acompanhando o tenor Peter Schreier. A "Sinfonia n.5" (1888) revela bem mais do que a veia melódica e o talento de orquestrador do russo, e o maestro seguiu enfatizando o canto, cujas inflexões coordenavam toda variação de andamento e intensidade. A pura sequência levou o concerto a um ponto culminante, e nada mais adequado do que a "Dança Húngara n.1", de Brahms, como extra, antes de enfrentar de novo o frio paulistano. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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