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Folhateen Mãos à obra Vice-presidente da Odebrecht dá conselhos para se tornar um engenheiro civil de sucesso RICARDO MIOTOCOORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS A mulher de André Amaro, 48, teve de aprender a lidar com os ciúmes. Não que o engenheiro civil seja mulherengo. O vice-presidente da Odebrecht é, isto sim, muito sincero ao afirmar que sua prioridade na vida não foi a família. "Quer ter sucesso? A carreira em primeiro lugar. Amigos? Família? Sim, mas na medida em que a carreira permita. A minha mulher morria de ciúmes da Odebrecht, depois passou", diz. Weslley Carvalho, Matheus Donda e Luana Barreto, todos de 18 anos, concordavam com a cabeça, sorrindo como quem não quer desagradar um futuro chefe. Prestes a prestar vestibular para engenharia civil, eles foram convidados pelo "Folhateen" para conversar com Amaro para a série "Choque de Realidade". O engenheiro também já teve 18 anos, então relembrou seus estudos na Universidade Federal de Minas Gerais. "Eu me dediquei muito mais ao trabalho do que às aulas. Não é uma recomendação, é como foi comigo. Se alguém pudesse assinar a presença para mim, estava resolvido. Eu queria me formar rápido. Pensava: imagina se eu tenho que ficar mais tempo aqui?" Amaro queria não apenas fugir das aulas mas também dos grandes centros. "A vida nos Jardins e em Pinheiros é uma delícia, mas o engenheiro tem de ir para longe", adverte ele. "Jovem, eu queria ir para obras no Acre, Amazônia. Via o pessoal falando 'tô em Rondônia' e morria de inveja. O meu horizonte era o Brasil. O dos jovens engenheiros de hoje é o mundo. Líbia, Moçambique, Oriente Médio." O engenheiro já foi trabalhar no Rio Grande do Sul, fazendo "uma estrada ligando o nada ao lugar nenhum", em Recife, em Paranaguá (PR) e, mais recentemente, em Portugal e na Alemanha. "É preciso estar onde estejam sofrendo por falta de gente, com mais oportunidades do que pessoas", diz. Por mais desesperador que seja esperar pela sorte, às vezes também é preciso estar no lugar certo na hora certa. O próprio Amaro só foi chefiar uma operação na Alemanha aos 26 anos porque... bom, porque precisavam urgentemente de um brasileiro que falasse alemão. Depois de contar com a sorte, vem a hora de contar com a paciência. "Na Alemanha, me enrolavam de tudo que era jeito. Levava 'chapéu' toda hora. Mandavam contratos complicadíssimos para eu ler, páginas e páginas, e eu com o dicionário...", conta. A boa notícia é que, com a porrada, há o aprendizado. Existirão também outras situações ruins: "Em algum momento, haverá uma nova 'década perdida', por exemplo. E talvez você tenha de lidar com muita burocracia." Sobre fazer obras para o governo, ele não vê problemas: "É um cliente como qualquer um." O jovem também terá de saber quão grande é a sua tolerância a desafios para escolher entre ser empregado ou ter uma construtora. Amaro, que não é dono da Odebrecht, defende a sua escolha: "Patrão não tem férias, não tem 13º. Se você quer montar o seu negócio, monte cedo. Se der errado, há tempo. E depois de sentir o gostinho do 13º e das férias pagas, você fica preguiçoso. Aí vem filho, casa, novos compromissos", adverte. E completa: "A coragem diminui com o tempo. Amadurecer tem um componente de covardia." Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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