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Crítica Documentário

Diretor resgata memória coletiva da China

Em novo filme, Jia Zhang-Ke equilibra concreto e sensorial em busca de um entendimento profundo de seu país

PEDRO BUTCHER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em "Memórias de Xangai", Jia Zhang-Ke, autor de crônicas poéticas sobre a China contemporânea como "O Mundo" (2004) e "Em Busca da Vida" (2006), volta-se para o passado.

Apesar de alguns excertos ficcionais, que servem como o pretexto para um passeio melancólico pela Xangai contemporânea, o filme se estrutura a partir do depoimento de 18 habitantes, dos mais diferentes perfis e idades, da cidade que já foi o coração político e cultural da China.

Cada depoimento revela uma trajetória singular que mistura aspectos pessoais e históricos. São pequenos pedaços de "história oral", hipnotizantes, filmados com a elegância habitual do fotógrafo Yu Lik Wai, colaborador constante de Jia Zhang-Ke.

A necessidade de voltar ao passado, no entanto, é fruto do mesmo desejo que move os outros filmes do cineasta: buscar um entendimento mais profundo de seu país hoje. Daí a importância da escolha de Xangai, cidade que guarda em sua geografia e arquitetura várias "camadas" da história chinesa.

O desenrolar dos depoimentos obriga o filme a deixar a China, já que, depois da revolução comunista, aqueles que não concordavam com os rumos políticos do país se exilaram em Taiwan ou Hong Kong.

Forma-se uma teia complexa, em que Zhang-Ke consegue um improvável equilíbrio entre o concreto (a informação, os fatos históricos) e o sensorial (o ritmo singular da montagem, a forma de registrar os depoimentos e o tratamento visual e sonoro da parte ficcional).

Alguns dos entrevistados são também profissionais do cinema, como a atriz e cantora Rebecca Pan, o cineasta taiwanês Hou Hsiao Hsien e Zuo Qiansheng, assistente de Michelangelo Antonioni no documentário "Chung Kuo", que o diretor italiano rodou na China, em 1972.

Qiansheng conta, por exemplo, as retaliações que sofreu por ter deixado Antonioni captar imagens não previamente autorizadas, que deixaram o filme longe do aspecto oficialesco esperado pelas autoridades.

Zhang-Ke incorpora a "Memórias de Xangai" imagens dos filmes citados pelos entrevistados, trazendo para o interior de seu longa o próprio cinema e seu papel na construção de uma memória coletiva. O resultado é um dos trabalhos mais belos do cineasta.

MEMÓRIAS DE XANGAI

DIREÇÃO Jia Zhang-Ke

PRODUÇÃO China, 2010

ONDE Cinesesc

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO ótimo

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