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Folhateen

A dose exata

Roberto Kalil, o cardiologista dos poderosos, prescreve a receita para ser um médico de sucesso

MILLOS KAISER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Trabalho. Esta foi a palavra que o cardiologista Roberto Kalil Filho, 53, mais falou durante o papo com Aléxia Toledo, 17, Mariana Valsirolli, 20, Laís Carvalho, 18, e André Andrade, 19, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Os quatro jovens, escolhidos pelo "Folhateen" para dar seguimento à série "Choque de Realidade", são alunos de cursinhos pré-vestibular determinados a passar para o curso de medicina.

Kalil lembrou de seus tempos de vestibulando: "Achava que era burro, que nunca ia passar. Mas prestaria vestibular o resto da vida, se necessário".

Não foi preciso. Na terceira tentativa, quando tinha 23 anos, veio a aprovação, em uma faculdade particular.

"Claro que o sonho de todos é a USP, ou outra universidade pública", diz. "Mas o que importa é entrar."

Em sua opinião, tão ou mais importante que a instituição de ensino é onde o aspirante a médico faz sua residência -a dele foi no Incor (Instituto do Coração), parte do Hospital das Clínicas, onde optou pela cardiologia.

Com os canudos de graduação e mestrado debaixo do braço, foi fazer doutorado na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos. "Foi lá que virei doutor de verdade. As pessoas confundem isso. Não basta se formar em medicina para ser doutor", elucida.

FAMA E PODER

Não à toa, Kalil é conhecido como o "médico do poder" -dentre seus pacientes estão a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, com quem costuma pescar.

Para ele, foi tudo uma questão de estar no lugar certo na hora certa: "Desde a década de 1990, muitos políticos procuram o Incor para se tratar". Hoje ele é professor livre-docente do instituto.

"Atendo pessoas públicas do mesmo jeito que atendo pessoas comuns. Até porque um presidente da República não é presidente, ele está presidente."

Todavia, médico de famoso famoso é. "E como é estar sob holofotes?", perguntou Mariana.

"O lado ruim é que você é muito visado. Dia desses saiu na mídia que eu me consulto com uma astróloga. Isso incomoda, ninguém precisa saber", responde.

Já Laís quis saber como fazer para lidar com o estresse da profissão.

"Pressão há em qualquer ofício. O motorista de ônibus e o piloto de avião também têm vidas na mão", relativiza. E descarta o mito de que médico é Deus: "Somos seres humanos, erramos".

Mesmo assim, quando o pior acontece, "a sensação é de fracasso".

Com mais de 20 anos de clínica nas costas, ele ainda chora no colo da mulher a morte de um paciente: "Vai junto um pedaço meu".

Sua mulher também é médica, mas reclama do ritmo "workaholic". As filhas, idem. "Quantas vezes elas não dormiram dentro do carro, no estacionamento do hospital... Teve épocas de revolta, mas agora elas aceitam", conta.

Isabella, a caçula, pretende seguir os passos do pai. Enquanto isso, Rafaella, a mais velha, não pode nem ver um estetoscópio. Decidiu estudar direito.

Um último conselho, doutor? "Tem que trabalhar. Trabalho não mata, o que mata é raiva. Mas tem que gostar, senão complica".

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