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Disco de Charles Bradley tem a dor e a força do soul

Até ser descoberto, o cantor morou nas ruas e teve um irmão assassinado

Desde quando viu James Brown, em 1962, Charles Bradley sonhava em ser cantor; o 1º disco veio em 2011

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

No show que fez em maio deste ano, em São Paulo, durante a Virada Cultural, o "soulman" Charles Bradley incendiou o público quando, ao fim da apresentação, desceu do palco e saiu abraçando meio mundo.

Nisso se incluíam mendigos e passantes surpresos.

Mas ele estava em casa. Até gravar o seu primeiro disco ("No Time For Dreaming"), em 2011, só agora lançado no Brasil, Bradley, 64, morou na rua, engraxou sapatos e pegou no pesado na cozinha de restaurantes que passam longe do "Guia Michelin".

"Na verdade eu estava, durante todo esse tempo, perseguindo um sonho", disse ele em entrevista à Folha.

O tal sonho de cantar e dançar nasceu em 1962 quando, levado pela irmã mais velha, foi ao teatro Apollo, no Harlem, em Nova York, ver um show de James Brown.

"Não me lembro dos detalhes, lembro apenas da sensação de uma força tomando conta de mim", tenta explicar.

Entre bicos e perrengues nas ruas de Nova York, para onde se mudou ainda criança, Bradley cantava músicas de James Brown e Otis Redding em bares e clubes pequenos. Foi onde afiou o carisma e aprendeu a dominar plateias.

"O disco, os shows, essa coisa toda, eu devo a Deus, mas tem muito culpa do Gabriel [Roth]", conta ele se referindo ao dono da gravadora Daptone Records, que o descobriu em 2010.

Foi Roth quem também o ajudou a sair da depressão em decorrência da morte do seu irmão mais velho, assassinado pelo próprio filho.

"No Time For Dreaming" é fruto das tragédias e das pequenas derrotas que marcaram Bradley e, mais ainda, de sua obstinação e da paixão pela música soul.

Não há uma canção -do repertório se destacam pérolas como a que dá nome ao disco, além de "Trouble in the Land" e "Lovin' You, Baby"- que não fale de algum tipo sofrimento, mas sem soar piegas ou cheio de comiseração.

Quarenta anos depois do mítico show no Apollo, o cantor encontrou o rumo que tanto perseguiu e é responsável por uma lufada de renovação no gênero. "Por que o soul nunca morre? Porque ele permite que pessoas como eu possam exprimir sua dor e dizer também a quem sofre: vai dar certo, cara. Deu para mim"

NO TIME FOR DREAMING
ARTISTA Charles Bradley
GRAVADORA Som Livre
QUANTO R$ 21,90

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