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Mostra no MIS vai reunir musas da Boca

Helena Ramos, Neide Ribeiro, Zilda Mayo e Aldine Müller participam de debate sobre as pornochanchadas

Atrizes relembram com orgulho o período, mas reclamam dos baixos salários e das precárias condições de filmagem

DE SÃO PAULO

A Boca do Lixo revelou muitos produtores e cineastas talentosos, mas quem atraía o público para os cinema, é claro, eram as atrizes.

A mostra do MIS dedicada a Galante vai reunir para um debate quatro das musas das pornochanchadas: Aldine Müller, Helena Ramos, Neide Ribeiro e Zilda Mayo.

Todas contam ter muito orgulho do passado na Boca e que, apesar da imagem de "sex simbols", eram muito ingênuas quando começaram a carreira no cinema.

"Por mais irônico que pareça, recusei meu primeiro convite de filme por ter cenas de nudez. Demorei um pouco para aceitar a ideia", conta Ramos, hoje com 59 anos.

Conhecida como a "rainha das pornochanchadas", ela participou de 42 filmes, entre eles sucessos como "Mulher Objeto" (1981) e "Iracema" (1979). Helena Ramos abandou a carreira nos anos 1990 e hoje dedica-se à pintura.

"Ao contrário do que muitos pensam, era um ambiente muito sério. Nunca vi nenhuma gracinha da equipe com as atrizes."

"O dinheiro era tão contado", relembra Neide Ribeiro, 63, "que todos tinham de ser muito profissionais. A gente costumava filmar tudo de primeira, não havia tempo para repetir as cenas".

Das quatro, Aldine Müller, 58, é a única que ainda atua na TV e no cinema. "Senti um pouco de preconceito por ser da Boca, mas consegui romper a barreira e provar que não era uma atriz que só sabia tirar a roupa em cena."

Neste ano, ela integrou o elenco do filme de ação "2 Coelhos". "Hoje eu vi como o cinema paga bem. Na época da Boca, os produtores ficaram ricos às custas de atrizes trouxas como eu."

Apesar de ter adorado a experiência, Müller tem uma visão bastante crítica dos filmes. "De um modo geral, a maioria era ruim, nota zero."

Os baixos salários são a única má lembrança que Zilda Mayo, 59, guarda do período. "Fiz muito filme e não ganhei nada de dinheiro. Lá fora, com a minha carreira, já estaria rica."

Hoje Mayo mora em Araraquara (SP), onde produz e atua em peças de teatro. Conta que frequentemente é reconhecida por fãs nas ruas, principalmente quando seus filmes são exibidos nas madrugadas do Canal Brasil.

"Todo mundo adorava trabalhar ali, mas a estrutura era muito precária. Nas viagens, às vezes a gente ficava em hotéis de banheiro coletivo. Também não tinha dublê, eu mesma tinha que fazer as cenas mais perigosas."

Outro constrangimento ocorria quando algum ator se animava além da conta nas cenas de sexo. "Mas era raro. Comigo só aconteceu uma vez. O diretor interrompeu a cena e esperou o cara se acalmar", conta Ribeiro.

(MARCO RODRIGO ALMEIDA)

Confira galeria de imagens das atrizes
folha.com/no1126626

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