Crítica Drama

Cineasta do Quirguistão interpreta 'Robin Wood' de regime autoritário

Nascido no Quirguistão, em 1957, Aktan Abdykalykov ficou conhecido por sua trilogia autobiográfica, composta pelo premiado "O Balanço" (1993), "O Filho Adotivo" (1998), o único lançado comercialmente no Brasil, e "O Chimpanzé" (2001).

Depois de quase uma década sem filmar, ele retorna com "O Ladrão de Luz", que assina como Aktan Arym Kubat, retomando o sobrenome do pai biológico.

A mudança sinaliza sua emancipação do passado soviético do Quirguistão -que fez parte da União Soviética até 1991-, representado na trilogia, e o desejo de falar do presente. Se a narrativa é menos pessoal, a leveza e a vivacidade dos filmes anteriores continuam presentes.

O ladrão do título, interpretado pelo próprio cineasta, é um eletricista que, além de reparar um sistema de distribuição de energia completamente ultrapassado, faz ligações clandestinas de luz para os moradores mais pobres da aldeia em que vive e adultera os relógios que medem o consumo de eletricidade nas casas de famílias que não podem pagar a conta.

Não bastasse isso, este Robin Hood quixotesco serve a comunidade de outras formas: aconselha amigos, reconcilia vizinhos briguentos, socorre quem precisa. E tem o sonho de instalar um parque de energia eólica no vale, que acabaria com a penúria de eletricidade na região.

Mas o sonho entra em conflito com os planos de um homem de negócios, que pretende usar as terras dos camponeses para instalar um empreendimento comercial. Sua maneira de agir se resume a três práticas: corrupção, intimidação e violência.

Estes eram os traços principais do regime autoritário do presidente Kurmanbek Bakiev, derrubado em abril de 2010 por uma sangrenta revolta popular, meses depois de Arym Kubat ter concluído o filme. À sua maneira, o diretor mostra como o regime instalou a corrupção em todas as camadas sociais.

Além da simpatia e da força do personagem principal, o motor do filme, a fotografia -que celebra a natureza com belos enquadramentos e luz natural- é outro ponto alto.

(ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ)