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Crítica drama Com texto raro de Duras, peça reflete sobre incapacidade masculina de amar LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA O poder da linguagem. "A Doença da Morte", encenação de uma novela rara da escritora francesa Marguerite Duras (1914-1996), confirma como a melhor literatura pode ser potencializada pelo teatro. Duras escreveu o texto em 1982, dois anos depois de iniciar uma relação com um homem quase trinta anos mais moço. Na época, ela estava bebendo muito e o livro foi, em parte, ditado para o jovem amante. Depois de ser internada, para tratar-se do alcoolismo, Duras o retomou. A obra é uma belíssima reflexão sobre a incapacidade masculina de amar -a doença do título- e a paradoxal fragilidade da mulher, corpo vulnerável imbuído de plenitude. O espetáculo criado por Márcio Aurélio faz jus ao texto e formaliza em termos cênicos o intrincado jogo que Duras propõe no papel. O personagem central é ao mesmo tempo narrador e atuante em um caso amoroso peculiar. Ele contrata uma mulher para estar com ele sempre, incondicionalmente ao seu bel prazer. A situação, de fato, é um híbrido de ação dramática e narrativa em construção, em que a personagem feminina também narra, com sua poderosa intuição antecipando os passos do narrador dominante. Nessa combinação de agentes que se narram e se estranham, entre gozos e choros, suas palavras se adensam e transmutam a abstração em matéria. Desde os movimentos mais simples até os transportes sexuais mais intensos, tudo é desenhado na minúcia em gestos e olhares. Este delineamento formal deve muito à atriz Paula Cohen. Seu domínio corporal e a forma natural de oferecer as falas cristalinas de Duras, lapidados pela direção, permitem-lhe um desempenho primoroso. Seu parceiro Eucir de Souza está menos à vontade, preso a um registro inflexível de tensão permanente. Mesmo portador desta morte interna, seu personagem poderia variar mais seu diapasão de humores. Também destoa o cenário de André Cortez, ainda que belo. Excessivamente formalista, engessa a interessante dinâmica de narrativas e vivências cruzadas que o diretor propôs. Nenhum desses senões consegue empanar o brilho da montagem, que evidencia a prosa iluminada de uma grande escritora do século 20.
A DOENÇA DA MORTE |
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