Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Trilha quer pegar espectador pelo que ele tem de infantil

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

"Oi oi oi/ Oi oi oi."

"Eu quero tchu/ Eu quero tchá/ Eu quero tchu tchá tchá tchu tchu tchá."

"Ai ai aiaiaiai, assim você mata o papai/ Ai ai aiaiai, que boca gostosa eu quero mais."

Qualquer que seja o público que a Globo pretenda atingir e representar em "Avenida Brasil", ele se expressa basicamente por onomatopeias. Ao menos na música.

Quem se dedicar a ouvir todas as faixas das duas trilhas nacionais da novela (já lançadas pela Som Livre) há de ver esse recurso se repetindo várias e várias vezes.

É a regra mais básica da "música que pega": botar no refrão alguns sons que, de tão primitivos, fisgam o ouvinte pelo corpo -sem que seja necessário qualquer processamento anterior do cérebro.

Embrulhados em arranjo dançante, esses sons criam uma música que já tem uma coreografia embutida. Batem tão imediatamente que conquistam de pronto até crianças com menos de um ano.

É isso: a música de "Avenida Brasil" quer pegar o ouvinte pelo que ele ainda tem de mais ingênuo, mais infantil.

Mas espera. Música infantil com versos tão sexuais como "Faz carinha de safada/ Me excita, ah que tesão", cantados por MC Koringa?

Bem, nada muito diferente do que o grupo É o Tchan já fazia em 1995. E, na ocasião, Carla Perez virou quase a Xuxa de tanta criança em volta imitando, admirando.

O sucesso da trilha é inegável e talvez a Globo imagine estar simplesmente se dando bem ao adotar essa música "chiclete", considerada "produto inferior" por parte da elite brasileira.

Não é bem assim. Do funk carioca ao tecnobrega, é dessa energia sexual primitiva que se apoia parte da música mais pulsante feita hoje.

Ao usar de tamanho oportunismo para compor sua trilha sonora, a emissora nem sequer imagina a ousadia que vem a reboque da estratégia.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.