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Intérprete de carreira singular, András Schiff se apresenta em SP

Um dos maiores pianistas da atualidade, húngaro se destaca por execuções fiéis ao pentagrama

Em concerto solo hoje, músico executa peças de Haydn, Beethoven e Schubert; na quinta e na sexta, toca com a Osesp

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O excepcional pianista húngaro András Schiff, 58, fará hoje na Sala São Paulo sua única récita paulistana, na temporada de solistas da Osesp, com peças de Haydn, Beethoven e Schubert.

Intérpretes não têm ranking de competência musical objetivamente medida. Mesmo assim, é consenso que Schiff integra o topo de uma hierarquia com não mais que uma dúzia de pianistas.

Sua carreira é singular. Não ganhou nenhum superlativo concurso internacional para a seguir leiloar sua agenda entre empresários. Schiff subiu devagarinho e se singularizou por meio de formas de interpretação austeras e fiéis ao pentagrama.

O piano é um instrumento perigoso. Permite a transfiguração das partituras em simulacros de virtuosismo. É o caso do chinês Lang Lang. A duração de cada nota, a força dos dedos num acorde ou tocar separadamente notas unidas (legato) foram travestidas por uma subjetividade exuberante. É a técnica do intérprete a serviço da desinformação do público.

Schiff é rigorosamente o oposto. Tem um respeito quase místico pela escrita musical. Não há mudanças arbitrárias de andamento, ou diferenças de estilo ao longo do longo repertório. As 32 sonatas de Beethoven que gravou têm unidade musical, sem desvios de idiossincrasias.

"Como os restauradores, precisamos remover a poeira e a sujeira produzidas por séculos acumulados de convenções", disse recentemente.

Não que seja fanático por instrumentos e afinações de época. Gravou Mozart, em Salzburgo, no piano que pertenceu ao próprio compositor. Mas faz Bach ao piano, e não ao cravo.

Outra particularidade de András Schiff é o repertório.

No que poderia parecer uma aberração na ortodoxia dos conservatórios, ele não considera Rachmaninoff ou Lizt fundamentais. Sua bíblia traz Bach, Mozart, Beethoven e Schubert. Tem apego por

Janacek e Bártok, que fez no Rio e Buenos Aires, mas não fará aqui. Frequenta pouco Chopin, como na gravação em 1990 do "Concerto nº 2".

Sua relação com Beethoven traz um certo mimetismo, no bom sentido. Disse ao repórter Julio Wiziack, na "Ilustríssima" de domingo, que "Beethoven era uma pessoa com profundos princípios morais e éticos e com ideias sociais e políticas muito fortes". É o caso dele também.

Renunciou à cidadania austríaca, em 1990, quando a extrema direita chegou ao poder, e, no ano passado, disse que não poria os pés na Hungria enquanto ela fosse governada por Viktor Orbán, a quem acusou de xenófobo e antissemita.

ANDRÁS SCHIFF
QUANDO hoje, às 21h (solo), qui., às 10h e 21h, sex., às 21h
ONDE Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 3367-9500)
QUANTO de R$ 54 a R$ 62
CLASSIFICAÇÃO 7 anos

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