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Obra de Lygia Clark é revista em grande retrospectiva paulistana

Mostra é uma das maiores em paralelo à Bienal de São Paulo, que começa na semana que vem

Exposição no Itaú Cultural reúne obras do início da carreira, como pinturas dos anos 50, até propostas sensoriais

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

"Ele tem afinidade com o caramujo e a concha. É um organismo vivo, uma obra atuante." Lygia Clark descreveu assim o "Bicho", sua escultura metálica articulada, que toma feições distintas quando manipulada.

Ela, que morreu aos 67 anos, em 1988, injetou vida na obra de arte ao tirar suas peças da parede e fazer tudo se desdobrar no espaço, trepar pelos cantos até desabrochar no corpo em suas propostas sensoriais.

Alçada ao posto de musa do neoconcretismo, Clark, consagrada no circuito global e com mostra marcada para 2014 no MoMA, em Nova York, tem a partir de sábado uma grande retrospectiva no Itaú Cultural, uma das maiores exposições entre as paralelas à Bienal de São Paulo, que abre na semana que vem.

Nas artes visuais do país, Clark foi um nome central na transição do moderno para a arte contemporânea, autora de uma obra libertária. No lugar do quadro estático, inaugurou uma presença física no espaço, peças que se descolam da parede, sem moldura.

"Na verdade, o que eu queria era expressar o espaço em si mesmo e não compor dentro dele", escreveu a artista. "A superfície bidimensional, na qual o trabalho precisa ser criado, só adquire significado quando é em si mesmo a expressão do espaço."

Na mostra, pinturas da artista feitas em Paris nos anos 1950, ainda sob efeito de um cubismo vibrante, aos poucos dão lugar à redução cromática radical das telas que fez no retorno ao Brasil, quadrados negros separados de outros quadrados negros por um corte na superfície.

"Ela domina a pintura, com uma visão de cor muito rica", diz Paulo Sérgio Duarte, um dos curadores da mostra. "Mas quando ela faz essa redução, uma radicalização cromática, passa a repensar a pintura como um todo."

E também a escultura. Clark desdobra seus ângulos e arestas no "Casulo", chapas de metal dobrado ainda presas à parede, e depois no "Bicho", série que se multiplicou numa fauna pontiaguda.

OBRAS PARA O CORPO

Mais tarde -e talvez essa seja sua maior ruptura em relação a Hélio Oiticica e Lygia Pape, seus colegas neoconcretistas-, suavizou essas linhas no "Trepante", formas metálicas em espiral, e na "Obra Mole", peças de borracha que serpenteiam pelo espaço e ao redor do corpo.

Ferreira Gullar, em sua teoria do não objeto, enxergou na evolução do "Casulo" para o "Bicho" uma síntese desse progresso orgânico, a obra plástica que se tornava cada vez mais atrelada à experiência corpórea e à vida real.

Tanto que Clark, depois do "Bicho", criou uma série de proposições performáticas, com o público dentro da obra, entre elas um túnel de tecido a ser atravessado pelos visitantes da mostra ou pisos e cintos imantados que atraem e repelem os presentes.

Nessa atração e repulsa, Clark criou um campo elástico para as artes visuais. "Recusamos a obra como contemplação passiva", escreveu. "A arte não é uma mistificação burguesa. Agora é você quem dá expressão ao meu pensamento, para daí tirar a experiência vital que deseja."

LYGIA CLARK
QUANDO abre 1º/9, às 12h; de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 11/11
ONDE Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 0/xx/11/2168-1776)
QUANTO grátis

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