Teatro

Sutil Cia. reforça elenco para nova peça

Levou cerca de 15 anos para que "O Livro de Itens do Paciente Estevão", peça da Sutil Cia. de Teatro que estreia amanhã, saísse do plano de ideias e tomasse corpo -corpo, aliás, de medidas generosas: são quatro horas e 30 minutos de duração.

Segundo o diretor Felipe Hirsch, a principal causa da demora foi a falta de um elenco numeroso de peso.

A vinda de Georgette Faddel, Isabel Teixeira e Danilo Grangheia ao grupo, atores da cena teatral experimental de São Paulo, viabilizou a comédia de humor negro.

A peça é adaptada do romance "O Paciente Steve", de Sam Lipsyte -norte-americano que contribuiu com Hirsch e Daniela Thomas no roteiro do filme "Insolação".

A trama retrata a trajetória épica e um tanto absurda do paciente Estevão (Leonardo Medeiros). Ele recebe de um mecânico e de um filósofo o diagnóstico de que sofre de uma doença desconhecida.

Apesar de se sentir bem, ele se desespera ao encarar a possibilidade da morte.

"Ele não percebe que a notícia de que um dia irá morrer de algo indefinido é a condição de todos os mortais", explica Hirsch.

Estevão inicia uma busca por cura e redenção. Anseia preencher o vazio existencial que o transformou em empregado burocrata e arruinou seu casamento e o relacionamento com sua filha.

Ele se interna no Centro de Recuperação de Almas, comunidade fundada por um terapeuta perverso (Guilherme Weber), que o incentiva a escrever sobre sua vida.

VISCERAL

Hirsch mescla os novos intérpretes com Weber e Medeiros, entre outros integrantes da Sutil. O diretor diz acreditar que, nos quase 20 anos do grupo, nunca havia trabalhado com uma equipe tão forte de atores.

"Ao reunir esse elenco, vi que tinha força para abarcar a empreitada, uma das mais complexas da minha carreira. O resultado é uma atuação que, além de magistral, é também vigorosa", afirma.

A contribuição de Faddel, Teixeira e Grangheia não passou ilesa ao restante do elenco. "Eles trouxeram uma respiração nova", diz Medeiros.

Para o ator, que há cerca de uma década integra a Sutil, a trinca surge como contraponto para o trabalho intensamente mental do grupo. "Eles vêm de um teatro mais visceral e solto", descreve.

Faddel, de seu lado, confessa também ter se encantado com a nova experiência. "Estou acostumada a ir para a cena e deixar que ela se revele. Felipe me deu a possibilidade de pensar melhor sobre as escolhas e de conceituar a peça de maneira sólida antes de começar o processo de ensaio", conta a atriz.

Segundo Hirsch, "O Livro de Itens do Paciente Estevão" é uma espécie de síntese da trajetória do grupo até hoje; sua trama, porém, vai mais longe, abordando o percurso do homem contemporâneo.

"Estevão engloba etapas muito significativas e reveladoras do mundo de hoje", diz Faddel, citando inúmeras "qualidades" do protagonista, que é perdido, vazio e manipulado por corporações.