Bortolotto monta texto inédito e 'esquisito'

Desde março o autor, diretor e ator Mário Bortolotto desenvolve em São Paulo o projeto Cemitério de Automóveis 30 Anos, de remontagens de peças importantes na trajetória da companhia fundada no Paraná e estabelecida em São Paulo em 1996.

Mas "Inferno em Mim", em cartaz neste mês, é o segundo texto inédito do ano, depois de "Quartos de Hotel". "Eu precisei escrever esses", conta Bortolotto à Folha.

Ele se refere às condições acertadas no projeto, beneficiado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro. "Combinamos que três montagens seriam inéditas. Estou escrevendo a terceira."

"Inferno em Mim" trata de encontros, com vários anos de intervalo, entre dois amigos motociclistas, afetados pelo assassinato do pai de um deles. Bortolotto define o texto como "esquisito", assim como seu momento pessoal.

"O que escrevo está ficando mais denso. Não sei bem se gosto, nem sei se estou gostando de mim", diz o autor, que receia provocar confusão no espectador. Os atores ficam o tempo todo no palco e as idas e vindas temporais são marcadas só por detalhes.

Na temporada de remontagens, ele tentou usar os atores dos elencos originais. "O Cemitério de Automóveis é assim. Eu criei e fico, mas os amigos entram, saem e depois voltam. Quero todos por perto, é a minha turma."

Para a nova peça, na qual ele dirige e atua, recrutou nomes habituados a seu universo de personagens marginais: Nelson Peres, Maria Manoella e Wanessa Rudmer.

Bortolotto relutou, mas aceitou a bilheteria livre, com cada um pagando o quanto desejar. "Sempre montei peças baratas, tipo R$ 10 o ingresso. Mas como aqui tem gente que dá R$ 1 e gente que dá R$ 50, lucramos até mais."