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Crítica Documentário

Imagens raras e roteiro melancólico engrandecem 'Tropicália'

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

QUE ALEGRIA, ALEGRIA QUE NADA. 'TROPICÁLIA' REGISTRA O PERÍODO MAIS SOMBRIO DAS BIOGRAFIAS DE CAETANO E GIL

Caetano Veloso e Gilberto Gil dão canja no festival da ilha de Wight, na Inglaterra, em 1970. Tom Zé e Torquato Neto assistem, da plateia, o show de lançamento do LP "Tropicália", em 1968. Gil e Jards Macalé vagam pelas ruas de Londres, em 1971. Nara Leão faz suas próprias imagens de Caetano defendendo "Alegria, Alegria", no Festival da Record, em 1967.

Imagens como essas, desconhecidas até agora, são, a princípio, o maior dos méritos de "Tropicália", documentário de Marcelo Machado que reconstrói o fim, o princípio e o meio (mais ou menos nessa ordem) do maior movimento musical brasileiro depois da bossa nova.

Mas, entre um e outro espasmo visual -e sonoro-, o filme vai revelando atrativos mais profundos e violentos.

O encadeamento de cenas históricas e depoimentos recentes constrói uma narrativa de emoção crescente, que escapa sempre do clichê do "tempo bom que não volta mais" e joga o espectador, isso sim, numa rede bem mais complexa de sensações, tecida de dor, angústia e tristeza.

Que alegria, alegria que nada. É o período mais sombrio das biografias dos dois protagonistas, Caetano e Gil.

A sombra encobre suas vidas, primeiro, sob a forma da incompreensão -parte do público, imprensa e colegas músicos reagiram mal às propostas estéticas tropicalistas.

A escuridão se alastra em seguida, pós-AI5, e termina em cerceamento de liberdade, prisão, exílio e solidão.

O roteiro reforça o clima melancólico ao esconder, por metade do filme, a imagem atual dos entrevistados. Até ali, os depoimentos de Caetano, Gil, Tom Zé, Rogério Duarte, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias captados pelo diretor surgem em off, comentando as imagens deles mesmos, só que 40 e tantos anos atrás.

O recurso faz com que o espectador viaje no tempo, como em um filme de ficção. E se envolva com aquele passado, se aproxime de fato da história que está sendo contada e se deixe levar pela força daquelas canções (costuradas brilhantemente pelo produtor musical Kassin).

Uma vez viajando, a plateia é puxada de volta ao chão, numa fisgada violenta e irreversível, quando os tropicalistas já quase setentões (as imagens foram feitas ao longo dos últimos cinco anos) surgem na tela para lembrar: isso não é novela, é vida real.

"Tropicália", portanto, diverte e emociona até quem não se interessa por história do Brasil, por nossa música popular. É um filme tão universal quanto a estética e o movimento que retrata.

TROPICÁLIA

DIRETOR Marcelo Machado
PRODUÇÃO Brasil, 2012
ONDE Iguatemi Cinemark, Reserva Cultural, Kinoplex Itaim e circuito
*CLASSIFICAÇÃO * livre
AVALIAÇÃO ótimo

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