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Coleção resgata o humanismo de Chaplin

Em 'Tempos Modernos', humorista questiona o processo de mecanização do trabalho e capta as angústias do século 20

Conjunto de 20 volumes, que chega às bancas a partir de hoje, reúne a obra completa do artista que redefiniu o cinema

DE SÃO PAULO

Se Charles Chaplin soubesse quantos problemas enfrentaria quando começou a filmar "Tempos Modernos", em 1936, talvez desistisse do ambicioso projeto.

Na trama, o funcionário de uma indústria repete tantas vezes o gesto de apertar parafusos que perde a razão e é internado. Depois, volta às ruas e logo vai preso, quando a polícia o confunde com um líder grevista.

Libertado, ele se apaixona por uma garota órfã e tenta trabalhar numa loja, mas sempre se mete em confusão.

O longa é o terceiro volume da Coleção Folha Charles Chaplin, nas bancas no próximo domingo, 30/9.

Com 20 títulos a serem lançados semanalmente, o conjunto reúne a obra completa do artista que ajudou a redefinir a história do cinema mundial com seu talento.

Simultaneamente, são lançados hoje o longa "O Grande Ditador" e a coletânea de curtas "Dia de Pagamento".

"Tempos Modernos" satiriza os avanços do capitalismo e a crença cega no progresso.

Chaplin recria com graça uma triste situação que lhe foi narrada por um repórter durante uma entrevista.

"Ao saber que ia visitar Detroit [cidade industrial do nordeste dos Estados Unidos], ele explicou-me o sistema de trabalho na linha de montagem, que atraía jovens sadios e os reduzia a frangalhos nervosos em quatro ou cinco anos."

Com humor, o artista desmonta as incoerências de um sistema que inventa máquinas que escravizam os homens.

No último filme em que Chaplin se vestiu de Carlitos, o vagabundo se vê escravizado por regras cruéis de trabalho.

Os patrões de "Tempos Modernos" buscam formas de lucrar com a força de trabalho de seus empregados até nos momentos de descanso.

Ao ser submetido como cobaia aos testes de uma máquina de comer, pesadelo mecânico inventado para que o operário não perca tempo com o almoço, Carlitos nos mostra que a luta pela sobrevivência sempre pode ser mais dura.

A atualidade cruel da história pode ser percebida hoje, 76 anos após o lançamento do filme. Combinando humor e humanismo, Chaplin investiu contra a sociedade baseada no lucro e a era das máquinas que começavam a transformar seres humanos em autômatos.

Após o filme, a imagem pública de Chaplin ficou intimamente ligada à política. A partir do longa, seus engajamentos pessoais não eram mais dissociados de sua carreira.

Ao representar o indivíduo refém da máquina, Chaplin construiu uma fábula cinematográfica que captou as angústias do homem do século 20.

CHAPLIN POR INTEIRO

Charles Spencer Chaplin (1889-1977) dizia que "o humor alivia a instabilidade da vida e revela que a seriedade exagerada tende ao absurdo".

Ator, diretor, roteirista, produtor, humorista, dançarino e músico, o britânico que ganhou fama em Hollywood desenvolveu esses papéis simultaneamente.

Além de clássicos do humor, como "O Circo" e "Em Busca do Ouro", a coleção traz todos os seus curtas-metragens restaurados.

Mais do que grandes capítulos da história do cinema, os filmes de Chaplin comprovam a necessidade de se discutir as incoerências do mundo.

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