Festival do Rio 2012

Coppola volta ao início da carreira em seu novo filme

Francis Ford Coppola, aos 73 anos e com a vida feita, não tem planos de voltar a filmar para grandes estúdios.

Desde que retornou ao cinema, em 2007, após um hiato de dez anos, o diretor só assume projetos que considera pessoais e que trazem "satisfação artística".

O terceiro deles, "Twixt", será exibido hoje no Brasil, dentro da programação do Festival de Cinema do Rio.

É um filme mais fácil que os anteriores: "Velha Juventude" (2007) e "Tetro" (2009). É, principalmente, uma grande homenagem do cineasta ao início de sua carreira.

Muitos acham que o refinamento e a elegância sempre o acompanharam. Mas uma década antes de pisar no set de sua obra-prima, "O Poderoso Chefão" (1972), Coppola aprendia o ofício servindo de assistente de direção de Roger Corman, mestre dos filmes trash.

"Twixt" traz diversas autorreferências que vão sendo jogadas ao longo da trama com a ajuda de um escritor de mistérios vagabundos interpretado por Val Kilmer.

O "Stephen King de segunda", como define um personagem, chega a uma cidadezinha do interior e é cooptado pelo estranho xerife local (Bruce Dern) para escrever sobre a misteriosa morte de uma garota e o assassinato de crianças em um hotel das redondezas.

Na investigação, ele é acompanhado por uma estranha menina (Elle Fanning) e pelo fantasma do escritor Edgar Allan Poe (Ben Chaplin), que tentam ajudá-lo a não apenas escrever uma obra respeitável como superar a morte da filha.

Coppola diz que a ideia de "Twixt", que será exibido em 3D no Rio, veio de um pesadelo. Mas há elementos mais complexos, como a morte de seu filho Gian-Carlo Coppola em 1986, aos 22 anos, vítima de um acidente de barco em um lago -assim como a menina do filme.

Além disso, o fantasma de Poe é uma homenagem a sua maior influência literária, lembrando que o primeiro curta da carreira do cineasta, quando ainda estudava em Los Angeles, foi uma adaptação livre do conto "William Wilson", escrito em 1839.

Pena que todas essas camadas de referências não transformem o longa em uma obra grandiosa.

Coppola tenta injetar diversos gêneros, porém não define exatamente o clima de "Twixt". Começa com uma comédia interessante sobre inspiração (Kilmer e sua canastrice garantem boas risadas), depois vira terror capenga e termina como uma fábula gótica onírica.

Talvez por isso o longa nunca tenha encontrado uma saída para o circuito comercial. Está há mais de um ano fazendo carreira pelos festivais, sem chamar a atenção.