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Superman 75 anos

No ano de seu aniversário, o super-herói mais popular da história ganha um novo filme e mantém vivas as discussões sobre seu suposto paralelo com personagens bíblicos

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Não era um pássaro nem um avião. O verdadeiro Superman era um pacato contador passando férias num resort ao norte de Nova York.

Era 1945. Joe Shuster (1914-1992), um dos criadores do personagem, junto com Jerry Siegel (1914-1996), descansava na colônia de férias quando encontrou Stanley Weiss, jovem de rosto quadrado e porte atlético, que ele julgou ser a encarnação do herói.

Lá mesmo, pediu para desenhar o moço que serviria de modelo para os quadrinhos dali em diante.

Só neste ano, esses desenhos estão vindo à tona nos EUA, como parte das atividade comemorativas dos 75 anos do personagem, cuja primeira aparição aconteceu em um gibi publicado em junho de 1938.

Um novo Superman chegará aos cinemas em junho, dirigido por Zack Snyder, de "300".

A Warner Bros., responsável pela produção, acredita ter encontrado no ator britânico Henry Cavill um substituto à altura do americano Christopher Reeve (1952-2004), considerado o Superman definitivo no cinema.

SARADO

Embora tenha mantido a aparência de rapagão musculoso, Superman não foi o mesmo ao longo dos anos.

Nos gibis, oscilou entre mais e menos sarado. Na TV, já foi mais rechonchudo, até reencarnar como o púbere Tom Welling, da série de TV "Smallville".

No cinema, depois de virar ícone com Reeve, fraquejou na pele de Brandon Routh, ator do filme de 2006 que não agradou público nem crítica.

"Desde pequeno eu sabia que Superman não existia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro Superman", brincou David Weiss, filho do modelo do herói, em entrevista à Folha.

"Ele era atlético, remava na faculdade. E não houve outra inspiração para o Superman. Ele era a cara dele."

NOVOS TEMPOS

Weiss cresceu comparando o rosto do pai ao desenho pendurado na sala de casa. Mas logo Joe Shuster, que foi o seu principal desenhista ao longo dos anos 1930 e 1940, acabaria cedendo espaço para novos cartunistas, que adaptaram a figura aos fatos correntes.

"Essa mudança é o segredo do Superman. Cada época precisa de um herói só seu, e ele sempre pareceu ser o cara certo", diz Larry Tye, considerado o maior estudioso do personagem.

"Nos anos 1930, ele tiraria a América da Grande Depressão. Nos anos 1940, era duro com os nazistas. Nos anos 1950, lutou contra a onda vermelha do comunismo."

E foi mudando de cara de acordo com a função. Superman, nas palavras de Tye, começou "básico, rudimentar, aquilo que uma criança imagina ser um herói" -daí a cueca por cima da calça.

Quando Wayne Boring (1905-1987) assumiu, no começo dos anos 1940, o posto de principal ilustrador, o Superman perdeu de vez o ar infantil e virou um "homem robusto, com um maxilar gigante, que enche uma página".

Foram essas feições que serviram de mote para a escalação de Christopher Reeve para o primeiro filme do herói, que estreou em 1978 e foi o mais lucrativo na história da franquia (cerca de US$ 1 bi em valores atualizados).

"No filme, ele perde aquela virilidade masculina e ganha uma sensibilidade humana mais ampla", analisa Tye. "Ele deixa de ser deslumbrante para ser bonito."

JUDEU

Invenção dos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster, Superman também é visto como um paralelo da história de Moisés, a criança exilada que cresce numa terra estrangeira e depois se apresenta como um salvador.

A aparência é um misto do também personagem bíblico Sansão, do deus grego Hércules e de acrobatas de circo.

Mas há quem atribua, até hoje, a dualidade do personagem que se alterna entre o nerd indefeso, tímido e de vista fraca (como Joe Shuster), e um super-herói possante, à origem judaica dos seus criadores.

"É o estereótipo judeu do homem fraco, tímido e intelectual que depois se revela um grande herói", diz Harry Brod, autor do e-book "Superman Is Jewish?" (Superman é judeu?), lançado nos EUA em novembro passado.

"Ele é a versão moderna de Moisés: um bebê de Krypton enviado à Terra, que desenvolve superpoderes para salvar o seu povo."

Segundo Brod, a analogia é tão nítida que os nazistas chegaram a discutir a suposta relação em revistas de circulação interna do regime.

Mas, para ele, Hollywood e o tempo suavizaram o paralelo, transformando Superman numa releitura de Jesus Cristo. "Sua figura foi se tornando mais cristã com o tempo", diz Brod.

"Não importa a religião. A ideia de um fracote que se torna um herói não deixa de ser uma fantasia universal."


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