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Diário de Nova York

O MAPA DA CULTURA

Entre a arte e a vida

Uma bienal com Pulp e Herzog

VINCENT KATZ

TRADUÇÃO CLARA ALLAIN

PARA ARTISTAS JOVENS ou em meio de carreira, estar na Bienal Whitney equivale a ser bem-sucedido. A edição atual, que vai até 27 de maio, destaca a perda de nitidez da distinção entre arte e vida.

Dawn Kasper, por exemplo, não tem ateliê desde 2008; sua prática é usar como ambiente de trabalho qualquer espaço em museu ou galeria que lhe seja destinado, e é isso o que ela mostra na bienal.

A ideia é que viva e trabalhe ali, mas nas duas vezes em que visitei a instalação tive a decepção de não encontrá-la. Os materiais espalhados não eram mais nem menos interessantes que os que encontraríamos na maioria dos ateliês.

Nesta bienal há ênfase na performance, à qual o quarto andar é dedicado. Vi uma da companhia de Michael Clark; dança boa, nada fora do comum, com figurinos que o elenco de "Star Trek" usaria, de aspecto sexy barato. Lá pelo meio, Jarvis Cocker, do Pulp, apareceu e cantou blues com letras ousadas. Era difícil afastar os olhos dele.

O cineasta Werner Herzog participa com uma instalação em várias telas dedicada ao gravurista holandês do século 17 Hercules Segers, que Herzog afirma ser "o pai da modernidade". Combinadas com música do violoncelista Ernst Reijseger, as imagens de Segers, cortadas e sequenciadas por Herzog, formam uma meditação tranquilamente melancólica.

O ANTI-"SEX AND THE CITY"

Lena Dunham abriu espalhafatoso caminho ao estrelato aos 22 anos, com "Tiny Furniture", longa-metragem semiautobiográfico sobre o retorno de uma recém-graduada a Nova York. Assista ao trailer em bit.ly/tinyfor.

Dunham, que escreveu, dirigiu e protagonizou o filme, fechou contrato com a HBO para o seriado "Girls", que estreou no domingo. É um "Sex and the City" para descoladas, com quatro garotas de 20 e poucos perdidas em Nova York.

Elas caem nas armadilhas de empregos, namorados insensíveis e da própria ingenuidade. Para o jornal "Washington Post", está mais para um anti-"Sex and the City". O realismo cômico propositalmente inexpressivo surge em linguagem visual moderna, com diálogos intencionalmente hesitantes. Veja o trailer em bit.ly/girlsonhbo.

Resta saber se o seriado fará sucesso entre o público mais amplo ou se permanecerá um produto cult, mas o fato é que Dunham tem o dom de retratar a subcultura.

A IDENTIDADE DE SHERMAN

No MoMA até 11/6, "Cindy Sherman" examina os quase 40 anos de carreira da transgressora fotógrafa americana. De lá, vai para San Francisco, Minneapolis e Dallas -e deve passar em São Paulo.

A arte de Sherman sempre foi uma amálgama de atuação, direção, iluminação, enquadramento e filmagem. Sem assistentes, colocando-se como atriz nas imagens, ela busca criar estados de ânimo.

Incidentalmente, embora suas fotos não sejam diatribes feministas, uma crítica da identidade feminina emerge por sua percepção ampla de cinema, pintura, moda e apresentação cultural em geral.

Isso começa em sua primeira obra, "Untitled Film Still", dos 1970, pequenas fotos em preto e branco que mostram Sherman em poses provocantes ou ridículas, às vezes as duas ao mesmo tempo.

Depois fez experimentos com a forma: obras horizontais extremas; imagens em grande escala que imitam o peso de pinturas; séries em que parece se decompor em meio a alimentos pútridos, fezes e vômito; palhaços sinistros.

Sempre comovente, é a garantia de um sorriso do espectador.

O ADEUS DA BIBLIOTECA?

Na histórica sede da Biblioteca Pública de Nova York, na 5a avenida com a rua 42, estão em curso planos controversos para uma reforma orçada em US$ 300 milhões.

O chamado Plano Central da Biblioteca vem sendo criticado por acadêmicos, que há décadas a usam como fonte básica para pesquisas. Prevê a venda de dois prédios que hoje abrigam bibliotecas circulantes e a transferência das operações delas para a sede.

Não está claro o que vai implicar a renovação, assinada pelo arquiteto britânico Norman Foster, mas vai exigir que a maioria dos volumes seja transferida a outro local, tornando necessário um dia de espera para a obtenção de livros.

Acadêmicos temem que o tom da biblioteca mude: de um ambiente baseado no respeito pela pesquisa séria a outro com funções demais sob um mesmo teto.

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