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Diário de Lisboa

O MAPA DA CULTURA

Um jantar para Amado

E a solidariedade lisboeta na crise

ISABEL COUTINHO

EM 13 DE FEVEREIRO de 1953, de passagem por Lisboa, Jorge Amado foi proibido pelo regime de sair do aeroporto, e intelectuais portugueses organizaram, no aeroporto mesmo, um jantar para ele.

Uma foto desse jantar integra a mostra "Jorge Amado em Portugal", em cartaz na Biblioteca Nacional portuguesa até o dia 29. A exposição tem entrada livre, e o catálogo em e-book está à venda pelo site livrariaonline.bnportugal.pt, por 2,50 euros.

Também está acessível o relatório que a Pide (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) fez do ocorrido. Inclui um croquis com a disposição dos lugares na mesa e a descrição: "[...] Este indivíduo, que se demorou apenas uma hora no aeroporto desta cidade, foi cumprimentado por um conhecido grupo de intelectuais portugueses, da extrema esquerda [...]. Jorge Amado conversou com todos os seus convivas, muito especialmente com os conhecidos escritores Ferreira de Castro e Maria Lamas."

Nessa primeira visita a Lisboa, Amado já não era desconhecido dos intelectuais portugueses. Em setembro de 1934, Ferreira de Castro tinha falado pela primeira vez do brasileiro no jornal português "O Diabo", onde fez "larga referência elogiosa, sendo essa, decerto, a primeira vez que o nome de Jorge Amado foi impresso na Europa."

O próprio Castro conta a história em artigo na revista "Vértice", em novembro de 1951. "Há, talvez, 15 anos, recebi em Lisboa, enviado do Rio de Janeiro pelo seu autor, um livro intitulado 'Cacau'", conta, acrescentando que ficou três semanas sem pegar no romance. "No dia, porém, em que o abri, a minha surpresa foi grande: o nome completamente desconhecido que o assinava impunha-se desde as primeiras páginas."

Os dois artigos, bem como os primeiros livros de Jorge Amado que circularam no nosso país, em edições brasileiras da José Olympio e da Martins, estão na mostra. E também o parecer de Silva Pais, o último director da Pide, para autorizar a visita a Portugal de Amado em 1966: "Aquele brasileiro está aburguesado, tendo sido afastado do PCB, e o filho dele vai casar com uma senhora portuguesa, filha de família nacionalista e abastada."

O NOVO LOBO
Na última Flip, Edney Silvestre lembrou que há uns anos veio entrevistar António Lobo Antunes a Lisboa e este lamentou a ausência de Amado na cultura portuguesa: "Ele, que teve tanta força e importância, sumiu!". Neste ano, a Dom Quixote, editora de Lobo, fez reedições, e o remake de "Gabriela" estreia em Portugal em breve.

Também em breve, as livrarias portuguesas terão novo romance de Lobo Antunes, "Não É Meia-Noite Quem Quer". O enredo do livro desenvolve-se em três dias, sexta, sábado e domingo.

Conta a história de uma mulher com 50 anos, professora, mal casada, sem filhos, que vai passar um fim de semana na casa de praia da família. A casa, modesta, foi vendida e ela quer despedir-se dela, mas também relembrar tudo o que ali se passou...

PARA NÃO PATINAR
As velhas calçadas de Lisboa estão a mudar. As pedrinhas que encantam estrangeiros aqui e no calçadão do Rio de Janeiro estão a ser substituídas devido às queixas de acidentes nas zonas mais inclinadas e escorregadias da cidade.

A Câmara Municipal de Lisboa investiu mais de 100 mil euros e está a substituir, nas zonas mais perigosas, a pedra calcária por uma mistura de pedra de vidraço e pedra de granito, para que se evitem as quedas.

É aplicada pelo calceteiros da forma tradicional nos passeios, nas ruas e travessas. Foi uma ideia do arquitecto Manuel Salgado, que a testou primeiro no Porto, no Estádio do Dragão.

A PEDALAR POR LISBOA
Hunter Halder é americano e vive há mais de 20 anos em Portugal, um país em que se estima que 360 mil pessoas passem fome e onde 50 mil refeições acabam diariamente no lixo dos restaurantes, por não terem sido consumidas.

Começou a pensar numa alternativa para tanto desperdício e criou a ReFood, uma rede de voluntários dedicada à recolha de excedentes alimentares em restaurantes, pastelarias, cafés e festivais de música, para depois serem distribuídos entre quem precisa.

Já são mais de cem voluntários. Pedalam por Lisboa para recolher a comida e estão no Facebook (facebook.com/refoodportugal).

Tal como o Movimento Zero Desperdício, criado pelo comandante da TAP, António Costa Pereira: uma instituição que pretende levar os excedentes de supermercados e restaurantes e hotéis a instituições sociais. A crise está a fazer-nos ficar mais espertos e solidários.

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