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Desculpe meu francês

REINALDO MORAES

Christian leva as sacolas de compras do supermercado até o meu apartamento. Não deixo de admirá-lo por isso. Homens portando sacolas sempre me excitaram. Inda mais um CEO capaz de me levar pro céu.

Na cozinha, tiramos frango, legumes e vinho das sacolas. Ele pendura seu paletó de risca de giz no espaldar de um cadeira, como um rei que pendura seu manto. Dou a ele uma faca e o incumbo de cortar o pepino em rodelinhas, enquanto eu me ocupo de destrinchar o frango.

- Você tem que descascar o pepino antes de fatiá-lo, Christian! -eu digo, num tom infantiloide de falsa reprimenda, ao vê-lo trabalhar com a faca.- E cuidado para não fatiar a sua gravata Hermès!

Eis que a fálica leguminosa parece se avantajar em sua mão. Estarei vendo coisas? Ou apenas estarei com fome de pepino?

Como das outras vezes, a conversa não engrena com facilidade entre nós.

- Diga alguma coisa, Christian.

- Desculpe o mau jeito, Anastácia. Sou um homem reservado.

Reservado pra sobremesa, penso eu com meu o.b.. Christian se cala, olhando para o pepino agora como um Hamlet para a caveira.

- Você não quer abrir o vinho?

Descansando o pepino e a faca na bancada da pia, Christian confere o rótulo:

- Esporão da Braguilhinha, 1997 - diz ele, soltando a seguir um risinho de diafragma. - Reparou na ironia, Anastácia?

- Que ironia, Christian?

- Você acabou de me pedir para abrir a braguilhinha. Hahaha!

- Hahaha! - eu faço, ecoando a refinada gag do garboso carregador de sacolas.

De súbito, me ponho séria e, frente a frente com ele, agarro-lhe as pudendas por cima da calça. No susto, Christian derruba a garrafa, que se espatifa aos nossos pés.

- Puta merda! - diz ele, em sermo vulgaris. - Desculpe meu francês.

- Deixa pra lá! - descarto, sem largar seu equipamento geniturinário.- Nada de chorar sobre o vinho derramado. Vem abrir a verdadeira braguilhinha aqui no quarto, vem!

- Devo levar o saca-rola? - diz Christian, com um leve esgar de malícia.

- Deixa que eu mesma saco -respondo, atrevidinha.

Antes de chegarmos na cama, já estamos completamente nus, descontando o Rolex de ouro dele e os meus brincos de pérola com MP3 embutido tocando "Ai se Eu te Pego" em looping. Um delírio!

Sem delongas nem milongas, Christian pula sobre mim na posição do CEO missionário, morde-me um mamilo e chega de bafo em riste no meu ouvido.

- Sexo sexo sexo! -cicia o ci-ii-ou. E completa, luxuriento:- Anal!

- Anal?! Now?! Era só o que me faltava... - murmuro.

- É verdade - ele diz. - Era só o que nos faltava. O resto já fizemos.

Antes de executar seu intento, porém, meu endiabrado executivo-em-chefe avança a cavalo sobre a minha barriga e tórax, repousando cada nádega num peito meu e oferecendo-me na boca seu empepinado membro. Sinto-me um bidê, mas chupo aquilo com tanta força que suas bolas são sugadas para dentro do corpo.

- Porra, Anastácia! Você vai engolir meus tomates desse jeito!

- U fifino ia inhunhi!

- Quê?!

Desboqueteei-o para repetir:

- O pepino eu já engoli.

Tento prosseguir no trabalho de sopro, mas ele refuga. Sem palavras, mas com gestos assertivos de CEO em ação, ele me põe de quatro na cama, valendo-se de quanta saliva tem na boca para lubrificar seu bastão de comando, antes de adentrar-me sem dó o orobó.

- Cucurrrru-cu-cu, palomaaa! - entoo em falsete, padecendo de um peristaltismo reverso e perverso.

- Ulalá! - ele vocaliza em francês do Moulin Rouge.

Arrisco uma metáfora astronômica, sentindo-o recuar dentro de mim com libertina lentidão:

- Estou vendo estrelas, Christian!

- E eu, cinquenta tons de marrom, Anastácia!

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