São Paulo, domingo, 08 de maio de 2011

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DIÁRIO DE PEQUIM
O MAPA DA CULTURA

Tempo congelado

Dylan cala, Confúcio anda e o documentário segue amordaçado

FABIANO MAISONNAVE

OS PRIMEIROS SHOWS de Bob Dylan na China foram anunciados na controlada imprensa local com uma enxurrada de trocadilhos envolvendo uma suposta abertura do regime comunista e a clássica "The Times They Are A-Changin'" (os tempos estão mudando).
Não foi bem assim: a lista de músicas teve de ser aprovada pelo Ministério da Cultura. E uma das maiores canções de protesto de todos os tempos acabou de fora, não se sabe se por decisão do cantor ou por obra da censura chinesa.
Quem foi a um dos shows de Dylan em abril, no Estádio dos Trabalhadores, não se decepcionou. Ele conseguiu conferir um tom intimista e emocionou chineses e expatriados cantando "Like a Rolling Stone".
Mas os que esperavam algum gesto político saíram frustrados. Além de "The Times...", outra ausência sentida foi a de "Blowin' in the Wind". E Dylan se absteve de qualquer alusão à prisão do artista plástico Ai Weiwei, apenas três dias antes -ele só se dirigiu ao público para apresentar a banda.

CONFUSO CONFÚCIO
A instalação de uma estátua de quase dez metros de Confúcio (551 a.C-479 a.C.) em plena praça Tiananmen (Paz Celestial), em janeiro, foi celebrada por seus seguidores como o símbolo da reabilitação, após décadas de desprezo sob o regime de Mao Tsé-tung.
Confúcio, no entanto, só manteve o novo endereço até a noite de 21/4, quando a estátua de 17 toneladas sumiu da entrada do Museu Nacional da China, ao lado do mausoléu de Mao. Depois de dias de mistério, reapareceu num pátio interno do prédio.
Intelectuais confucianos reagiram, exigindo explicações do museu -que, até a semana passada, não se pronunciou sobre o motivo da remoção. Já os maoístas comemoraram. "Confuciano! Por favor, volte para onde estava; o seu lugar certo é a tumba", comentou um deles, no site maoflag.net.
Mao detestava Confúcio: considerava-o o símbolo da velha estrutura social chinesa. No seu governo, várias estátuas do filósofo foram destruídas país afora. A do Museu Nacional pelo menos só teve de mudar de posição.

É TUDO MENTIRA
As últimas semanas foram confusas para os cinéfilos da cidade. A pior notícia veio no final de abril, com o cancelamento da 8ª edição do Festival de Documentário da China, marcado para a primeira semana de maio. Os organizadores alegaram "grande pressão" contra o evento, num momento em que o governo tem prendido dezenas de artistas, advogados e ativistas contrários ao regime autoritário.
Com o cancelamento, os pequineses perderam sua maior oportunidade de assistir a documentários, geralmente proibidos de chegar às salas de cinema e assim relegados a exibições privadas em DVD.
Por outro lado, a cidade acaba de sediar o 1º Festival Internacional de Cinema de Pequim. Patrocinado pela prefeitura, atraiu gente como o ator Jackie Chan e o diretor Darren Aronofsky e exibiu cerca de cem filmes entre os dias 23 e 28 de abril.
Por causa da rígida proteção de mercado chinês (só 20 filmes estrangeiros podem ser lançados por ano), o recorte era ultrapassado: estavam lá "Cisne Negro" e até "A Rede Social", apesar de o Facebook ser inacessível aos chineses.

OUTLET DE ARTE
No próximo fim de semana, acontece a feira anual do Affordable Art Beijing (AAB, Arte Acessível Pequim), que une jovens artistas e compradores com baixo orçamento. Os organizadores prometem mil obras por até 20 mil yuan (R$ 5.000) cada.
Quase todos os participantes são estudantes de academias de artes de todo o país ou moradores de comunidades artísticas de Pequim. A seleção durou seis meses e avaliou mais de 800 postulantes, o dobro do ano passado.
O mercado de arte chinês já é o segundo maior do mundo, segundo estudo recente da Fundação Europeia de Belas Artes. O levantamento mostra que os chineses foram responsáveis por 23% do mercado global no ano passado, quase o dobro da contribuição de 2009.
Em abril, o quadro "Forever Lasting Love" (amor eterno), de Zhang Xiogang, bateu o recorde de preço de uma obra contemporânea chinesa ao ser vendido por US$ 10,1 milhões (R$ 16 milhões), durante um leilão em Hong Kong.


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