São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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DIÁRIO DE NOVA YORK
O MAPA DA CULTURA

Mente aberta e intifada

Em NY, o xeque fala e as pessoas rebatem

VINCENT KATZ
TRADUÇÃO PAULO MIGLIACCI

Nos anos posteriores ao 11 de Setembro, Nova York vem experimentando tanto abertura quanto medo irracional em ondas de choque poderosas. Algumas pessoas, como o xeque Reda Shata, tema de artigo do "New York Times", viram-se forçadas pelos fatos a desenvolver mentes mais abertas.
"Os EUA me transformaram de alguém rígido em flexível", diz o xeque Reda. "Fui de um país [Egito] no qual o xeque fala e as pessoas escutam a outro no qual o xeque fala e as pessoas rebatem." Embora Reda tenha a aprendido a tolerar ideias diferentes em sua comunidade, é comum que o relacionamento entre comunidades seja prejudicado pela suspeita.
Em 2007, quando Nova York decidiu abrir uma escola pública dedicada ao idioma e à cultura árabes, o projeto recebeu críticas, e a mulher selecionada como diretora se viu pressionada a renunciar por ter defendido o uso da palavra "intifada" como lema em uma camiseta. Intifada significa, literalmente, "sacudir", em árabe, mas o termo decerto terminou associado à reação militante do povo palestino contra as incursões de Israel.
Por ocasião do 10º aniversário do 11 de Setembro, boa parte da emoção teve por foco o local específico dos ataques. Um ano atrás, o Marco Zero foi causa de ferozes disputas e azedume. Um centro comunitário muçulmano cuja construção estava planejada a dois quarteirões do local causou feroz oposição, a despeito do apoio do prefeito Bloomberg.
A ideia de uma instituição muçulmana tão perto do Marco Zero despertou emoções não controladas e foi considerada antiamericana, causando o retorno de tendências xenófobas que prejudicam o país desde que foi criado. É uma vergonha, pois permitir o centro teria enviado ao mundo um sinal de que os nova-iorquinos reconhecem que aqueles que perpetraram os ataques não representam a verdadeira fé muçulmana, mas sim um grupo de renegados empedernidos e ávidos de poder, que só tinham em mente seus interesses.
O que dá origem a esses medos é a ideia incorreta de que escolas e centros comunitários possam fomentar o islamismo radical.

ARTE POLÍTICA
Sempre duvidei um pouco de que arte política seja boa ideia. Muita gente com boas intenções tenta importar suas crenças para a arte, usualmente na esperança de mudar o mundo, em pequena ou grande escala. Mas com que frequência essas obras encontram sucesso, em nível estético ou, em especial, político?
Pensando em Maiakóvski, Brecht ou Allen Ginsberg, é fácil perceber que, para que um artista seja político, é preciso que cresça em ambiente politizado. O consenso entre artistas, curadores e críticos é de que o 11 de Setembro, embora seja o acontecimento mais retratado e documentado da História, não foi tema de grande número de obras de arte significativas.
A curadora Yasmil Raymond observa que, embora não tenha experimentado uma obra de arte "sobre" os ataques, viu "obras de arte notáveis e textos corajosos que responderam ao terror e miséria deflagrados em outras partes do mundo como resposta ao 11 de Setembro.
O que esses artistas e pensadores têm em comum é a condenação destemida não a determinado ato de brutalidade, mas às condições que continuam a perpetuar a desigualdade e a pobreza e a gerar apatia e violência".
Para o pintor Chuck Close, "as respostas mais significativas, mais emocionadas e mais memoráveis à tragédia do 11 de Setembro parecem ter surgido das reações espontâneas de cidadãos comuns que afixaram bilhetes e desenhos a muros do Marco Zero e de outras áreas do sul de Manhattan".

ARTE VS. GUERRA
"September 11", exposição que começa esta semana no MoMA PS1 (ps1.org), apresenta não imagens do desastre mas uma coleção de obras que oferecem contexto para uma meditação sobre as continuidades humanas.
Alex Katz, que tem diversos quadros na exposição, crê que "arte e guerra são coisas que os seres humanos têm há 20 ou 30 mil anos. São antigas. E quando há mais arte, há menos guerra".
A exposição permite que recuemos do mundo da mídia a um espaço mais íntimo e contemplativo. Um espaço mais humano.


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