São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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DIÁRIO DO RIO

Chega de chororô

Jazz no morro e Paul no Engenhão

RUY CASTRO

QUE INVEJA DA TURMA que tem hoje 30 anos ou por volta de! Está tendo a oportunidade de descobrir uma grande atriz brasileira, fora de circulação mesmo antes de seus membros terem nascido. A atriz é Odete Lara, e não será surpresa se sua descoberta despertar paixões em série nesta geração. Como despertou na minha.
A causa disso é o ciclo "Odete Lara, Atriz de Cinema", no Centro Cultural Banco do Brasil, com 16 dos 35 filmes que ela estrelou nos anos 50 a 70. Há duas semanas, foi a vez do Rio. Nesta, a de Brasília. E, de 1º a 12 de junho, será a de São Paulo.
Não perca "Boca de Ouro" e "Bonitinha, mas Ordinária", baseados em Nelson Rodrigues, "Noite Vazia", de Walter Hugo Khouri, "Copacabana me Engana", de Antonio Carlos Fontoura, e... bolas, não perca nenhum. Onde mais você encontrará atriz tão completa -e bonita?
Aos 82 anos, Odete compareceu a algumas sessões no Rio. Para a plateia, a sensação de estar com ela ali, ao vivo, e com sete metros de altura na tela, foi arrebatadora.

BOSSA JAZZ PARTOUT
Sempre que uma casa noturna fecha no Rio, os boêmios mais cascudos entoam o coro de que "a noite está acabando". Os chegados à bossa nova, ao jazz e ao samba- jazz são particularmente sensíveis a esses desfalques. Mas é porque ainda não perceberam a mudança de eixo.
Os espaços para a música não dependem agora de palcos convencionais, como o do defunto Canecão. Todo dia fica-se sabendo de um lugar original e surpreendente, acolhendo gente nova e de primeira tocando aqueles gêneros.
O lendário restaurante Albamar, no Centro, por exemplo, tem bossa e jazz todas as quintas. O Espaço Multifoco, na Lapa, também é um misto de livraria e casa de show. A MC Galeria de Arte, no Arpoador, abre todas as noites (sim!) para grande música. O Bistrô do MAC, em Niterói, não faz por menos. O Teatro Café Pequeno, no Leblon, abriga um festival de bossa nova há dois meses, com, entre outros, Pery Ribeiro, Os Cariocas, Orlan Divo.
E um belo programa é ir ouvir jazz uma vez por mês no The Maze, em pleno morro Tavares Bastos, no Catete, com a baía de Guanabara ao fundo. Chega de chororô.

YE, YE, YE
Quando os Beatles surgiram, em 1963, eu tinha 15 anos e, apesar da tenra idade, era fã de Dizzy Gillespie e Thelonious Monk. Natural que não me empolgasse com a simplicidade de "She Loves You", música e letra.
E que não achasse grande coisa o mote de "I Wanna Hold Your Hand" -segurar a mão da namoradinha- , comparado ao amoralismo neopagão dos filmes da nouvelle vague, como "Acossado", de Godard, e "Jules e Jim", de Truffaut.
Mas os anos voaram e os Beatles logo ficaram adultos -vide "Rubber Soul" e "Revolver". Quando saiu "Sgt. Pepper's", em 1967, o mundo, eu incluído, já se rendera a eles.
E, por causa deles, todos nos tornamos de repente mais jovens. Depois, os Beatles se desfizeram, John Lennon morreu e Paul McCartney ficou para contar a história.
Amanhã à noite, estarei num camarote do Engenhão para ver Paul pela primeira vez. Sei pouco de sua obra sem os Beatles. Mas, se só cantar os clássicos, estará bom.
O que ele produziu com Lennon já o coloca entre os grandes melodistas pós-1950, ao lado de Burt Bacharach, Henry Mancini, Michel Legrand, Cy Coleman e Carlos Lyra, e logo abaixo de Tom Jobim e Stephen Sondheim.

RIO ART DÉCO
De 14 a 21 de agosto, os cariocas se habituarão a ver homens e mulheres exclamando admirações em grupo e em várias línguas diante de fachadas e portarias de prédios do Rio.
Serão os participantes do 11º Congresso Mundial de Art Déco, sendo o Rio um dos grandes redutos desse estilo, que predominou em arquitetura, decoração e design entre 1920 e 1945.
O congresso prevê visitas guiadas a bairros como Glória, Flamengo, Urca, Copacabana (um dia só para o Lido), Lagoa, Ipanema, Leblon e o Centro, a casas particulares (como a residência Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa), a bares e restaurantes exemplares (como o Bar Lagoa) e, claro, ao Cristo Redentor, o maior monumento art déco do mundo.
Fora as exposições, palestras, debates e até shows, como os dos cantores Steve Ross (um ícone art déco vivo) e Marcos Sacramento.
Brasileiros também têm direito a exclamar, e há pacotes para todos os bolsos. Informações em www.congressoartdecorio.com.


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